As raízes e a matriz católicas dos Cidadãos Por Coimbra

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Foto - Luís Carregã

Foto – Luís Carregã

Os menos avisados estranharam a referência de João Semedo, na televisão, aos resultados do movimento Cidadãos Por Coimbra (CPC). Os demais, porém, apenas leram alívio onde o co-líder do BE pareceu expressar satisfação.
Em Coimbra, de facto, a estratégia do Bloco de Esquerda resultou quase na perfeição. O partido, recorde-se, chegava aqui em crescendo nítido no panorama eleitoral autárquico – 1385 votos e 1,84% em 2001; 3.677 votos e 5,19%, em 2005; 4.134 votos e 5,86%, em 2009.
Para este ano, porém, a perspetiva era de franca dificuldade em manter a curva ascendente. Em causa a grande instabilidade que o partido vive, no país, e as divisões internas que também são notórias, em Coimbra.

Movimento independente para o BE apoiar
Foi, portanto, um “golpe de asa” a criação de um movimento alargado e aberto de cidadãos, à esquerda, que o BE pudesse aplaudir e apoiar sem que uma e outra estrutura se enfeudassem no plano público.
A ideia, diga-se, terá tido mais do que um progenitor. Dois nomes, porém, hão de ficar ligados à génese teórica do movimento: José Dias e José Manuel Pureza.
O primeiro é um veterano do ativismo político, à esquerda, que esteve na crise estudantil de 1969, na fundação do Movimento de esquerda Socialista e nas campanhas presidenciais de Maria de Lourdes Pintasilgo e de Jorge Sampaio.
O segundo, para além do protagonismo e da projeção nacionais que granjeou, na sua passagem pela liderança do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, é também um homem do “pintasilguismo” – que, em Coimbra, em 1985/96, teve na Faculdade de Economia e na entourage ideológica de Boaventura de Sousa Santos o seu núcleo duro.

Católicos e pintasilguismo
Mas José Dias e José Manuel Pureza têm um outro e determinante elo de ligação: a militância ativa em movimentos organizados de católicos progressistas. Não estranhou, aliás, que muitos dos elementos do CPC fossem, também eles, conhecidos católicos de esquerda, sem filiação partidária. E não estranhou, também, que muita da implantação que o movimento conseguiu fora da cidade – em freguesias como Eiras ou Almalaguês, por exemplo –, tenha resultado da proximidade dos seus aderentes locais às paróquias.
A escolha dos primeiros candidatos foi outro momento-chave da caminhada do CPC: para a câmara, José Augusto Ferreira da Silva, bom tribuno, político de ideias firmes e combatividade experimentada; para a assembleia, José Reis, pensador de nível elevado e homem de rara inteligência política, com fácil penetração à esquerda do PS.
Agora, com estes e outros eleitos, o CPC promete ser um caso sério na política local. E, no executivo, José Augusto Ferreira da Silva pode mesmo vir a ser um problema à esquerda: ao comunista Queirós irá, muitas vezes, “anular” a prerrogativa de oposição pela esquerda; do presidente Machado será certamente o maior fiscalizador. P.M.

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