Opinião – “Mactérias”

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PROVEDORIA AMBIENTE 07 GMMMassano Cardoso

É bom estar atento aos miúdos, porque quando menos se espera aprende-se alguma coisa, pelo menos ficamos a saber, ou a imaginar, como funcionam aqueles pequenos cérebros ávidos em compreender o mundo que os cerca.

O primo, um ano mais velho, sofre de cárie. Uma situação muito comum nestas idades. Apesar dos cuidados de higiene oral não conseguiu evitá-la. Tomara! É uma criança como qualquer outra, gosta de se alambazar com produtos altamente cariógenos, o que pode ter consequências, por vezes dolorosas, como foi o caso desta semana. Antes, já tinha sido sujeito a tentativas de tratamento, mas, como estávamos à espera, opôs-se com determinação, ou seja, com medo, comportamento típico nestas idades, embora as condições atuais não tenham nada a ver com os dignos representantes dos “dentistas-barbeiros” que, no meu tempo de criança, revelavam ainda resquícios de aspirantes a torturadores da Santa Inquisição.

As conversas sobre este tema, cárie, doces, chocolates, lavagem e escovagem dos dentes são uma constante lá em casa, escutadas ou não pelos protagonistas infantis. Mas devem ser ouvidas, porque se não fossem não teria assistido e tido conhecimento das conversas da mais nova. Face às dores do primo, e ao conhecimento do seu comportamento em recusar o tratamento de dois “buracos”, a menina acabou por entabular uma conversa com a mãe, dando provas do seu interesse por este assunto.

“- Sabes o que são cáries, mamã?

– Hummm… Não. Conta-me lá!

– São “mactérias” que querem construir casinhas dentro dos dentes. Então, escavam, escavam, escavam e depois levam para lá a família toda!

– Ahhh… E cabem lá todas?

– Cabem, são todas amigas! Mas só que às vezes fazem doer a casa…

– Pois! É uma grande chatice…”

Hoje, face ao heroísmo e à aceitação por parte do primo em deixar-se tratar com sucesso, a conversa centrou-se no tema durante o almoço. A Leonor explicou-me o que eram as “mactérias”, como é que elas entravam nos dentes e faziam a sua casinha para si e para os filhinhos e depois, quando começavam a ressonar, provocavam dores.

– Como?! As “mactérias” ressonam?

– Sim. E depois fazem doer.

– E o que é que fazem, quando acordam? Não me digas que começam a pular, a correr e a brincar? Perguntei-lhe. A miúda esboçou um largo sorriso de admiração, dançou na cadeira, revelando uma manifestação de gozo e de incredulidade, e lançou-me na cara, a rir que nem uma perdida:

– Oh, vovô, mas que pergunta tão “podícula”!

– O quê?!

– “Podícula”, vovô! Mas tu não sabes de “mactérias”?

– Bom, um pouquinho.

– Ah. Está bem.

– E agora, o que é que vais fazer?

Com o dedo dá a indicação de esfregar os dentes e diz:

– Vou tirar as “mactérias”.

– Antes que escavem os teus dentinhos, não é?

– Pois. É que depois podem “ressonar” e “darem” dores.

– Muito bem Vai lavar os dentinhos.

Pelo menos fiquei a saber o que são “mactérias”, bactérias más, que gostam de escavar os dentes para terem uma casinha e que ao ressonarem provocam dores. Esta do ressonar é que ainda não percebi bem. Mas por hoje chega. Espero nos próximos dias aprender um pouco mais. O pior é que o raio de um molar começou a doer-me. Será que tenho lá dentro “mactérias” a ressonar? Às tantas. Na próxima semana vou acordá-las e mandá-las embora, senão quem não vai ressonar sou eu…

 

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