Opinião – Albert O. Hirschman

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Aires-DinizAires Antunes Diniz

Poucos economistas me marcaram tanto como Albert O. Hirschman, falecido há poucos dias, que conheci através dos seus livros e artigos, onde a cidadania é realçada no seu trabalho Exit, Voice, and Loyalty: Responses to Decline in Firms, Organisations and States de 1970. É onde fala da importância da saída voluntária de organizações ou países, da tomada de posição pela palavra e da lealdade para com as organizações a que pertencemos. Trata-se de um texto que pode ser de grande ajuda quando sabemos que, em muitas organizações, os funcionários leais são maltratados pelos que têm comportamentos oportunistas. Foi o que soubemos há poucos dias quando Nogueira Leite explicou as razões porque tinha saído da CGD, usando a sua saída (exit) como estratégia (leal) para denunciar problemas (voice) que afligem os portugueses. Outro trabalho que me influenciou foi The Passions and the Interests: Political Arguments for Capitalism before Its Triumph, (Paixões e Interesses: Argumentos políticos para o Capitalismo antes do seu Triunfo), mostrando as vantagens do sistema capitalista para conter e limitar as paixões dos homens. Mas, agora estas vantagens já não funcionam.

Trata-se de alguém que passou discretamente como refugiado por Portugal durante a II Guerra Mundial, sendo por isso que pouco nos influenciou, pois em Coimbra apenas recebeu um Doutoramento Honoris Causa em 1993. Foi bem ao contrário de W. L. Stevens, um estatístico matemático, que esteve no Instituto de Antropologia de Coimbra nos anos 1940, que tinha antes trabalhado no Galton Laboratory, Rothamsted Experimental Station, Harpenden, Herts. Foi aí que propôs a José Antunes Serra o uso do índice de assimetria num trabalho publicado por este em 1943, trazendo assim este cientista português para uma ciência genética humana matematizada e de forte estrutura científica verificável com modelos estatísticos.

Foi pena pois os ensinamentos de Hirschman podem ser de grande valia quando assistimos a comportamentos perversos, que quase ninguém denuncia porque quem os conhece estar submersos em medos, que urge dissipar com a cidadania de todos. Contudo, o seu exemplo, como militante ativo de causas, como aconteceu na resistência contra Mussolini, na Guerra Civil Espanhola, na resistência aos nazis em França, pode agora ser de grande valia mais uma vez para combater os comportamentos perversos de alguns, que conhecemos e que se aproveitam dos medos coletivos e irracionais, que nos empobrecem irremediavelmente, arrastando o país para o declínio, expresso nas empresas e organizações públicas e privadas.

Trata-se de um exemplo de vida, que pode trazer aos cidadãos um suplemento de ânimo, só para que possam aguentar quaisquer contratempos que uma cidadania ativa lhes pode trazer.

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