Opinião – Chá de urtigas

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Massano Cardoso

 

Gosto de ficção científica por várias razões, a principal assenta no facto de se ajustar melhor às necessidades e aspirações dos homens do que a triste e frequentemente estúpida realidade que incomoda e chateia a todo o momento. Ao pensar nisso consegui subitamente associar a série Star Trek (O Caminho das Estrelas), um destacado prémio Nobel da medicina e o chá de urtigas. Que estranha combinação, dirão. Talvez não. Comecemos pelo nobelizado em 2008, o francês Luc Montagnier, pela descoberta do vírus que provoca a SIDA.

Ultimamente tem enveredado por áreas que estão a provocar muito desconforto e “admiração” na comunidade científica. Uma delas tem a ver com um trabalho, que ainda não foi publicado em nenhuma revista, em que afirma ter achado que o ADN, a tão famosa molécula da vida, base da estrutura dos genes, consegue teletransportar-se à distância para uma solução onde não existia qualquer molécula.

Os cientistas estão incrédulos perante este “fenómeno”, segundo o qual o ADN conseguiu transmitir a sua “impressão” por meio de ondas eletromagnéticas na água. Colocado perante esta “inquieta” e improvável constatação, Montagnier afirmou que por vezes certas descobertas causam “grandes arrepios à humanidade”. Neste aspeto tem toda a razão, basta pensar no que fez Galileu, ao colocar a Terra a andar em volta do Sol, uma grande chatice, ou, então, a elaboração da teoria de evolução de Charles Darwin. Mas estas grandes conquistas só surgem de tempos a tempos, parece-me pois que Montagnier quer alcançar um feito parecido capaz de mudar radicalmente a forma de ser e pensar dos humanos. Mas à custa de um hipotético teletransporte do ADN? Bom, a não ser que se tenha inspirado no Star Trek, onde, de todas as façanhas que me recordo, a que mais me seduzia era quando o pessoal se teletransportava para outros locais. Uma maravilha que, se passasse à realidade, resolveria inúmeros problemas.

Deixava de haver veículos, poluição, não se pagavam portagens, não se gastava dinheiro na construção de auto-estradas e outras vias rápidas, poderíamos levantar muito mais tarde, porque iríamos mais do que a tempo para o emprego ou escola, entrávamos no gabinete do ministro das finanças e dizíamos-lhe umas valentes bocas, sentávamo-nos ao lado de um deputado e interpelávamo-lo diretamente, eu sei lá mais o que poderíamos fazer, por acaso até sei, mas não digo, poderia ser considerado como indecente.

Mas voltando a Montagnier, que muito provavelmente estará a sofrer qualquer problema mental ou existencial com o seu extraordinário conceito, embora não tenha sido reproduzido por nenhum outro investigador, e nem ter sido aceite em revista credível o seu trabalho, que eu saiba, o melhor é usar de alguma precaução. Isto porque em tempos ouvi dizer que um doutorando, no decurso das suas provas académicas, defendeu a tese do efeito curativo do chá de urtigas no cancro.

A ideia, mais do que disparatada, levantou muitas dúvidas ao júri, que, mesmo assim, não “chumbou” o candidato usando o seguinte argumento: “e se um dia se provar que o chá de urtigas faz mesmo bem ao cancro? Quem vai ficar mal somos nós”! Pois é! Ninguém quer ficar mal no filme da vida, mesmo se a ideia for um temendo disparate. O melhor é mandar este gado às urtigas. Eles que vão lá e depois nos contem se gostaram ou não, mas quem não vai mexer em urtigas sou eu. Já experimentei e não é nada agradável. Que raio de mundo é este em que vivemos. Prefiro o Caminho das Estrelas…

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