Ricardo Castanheira
Decorreu apenas um mês: é muito pouco tempo, é certo; porém o suficiente para se observar a colossal diferença entre o que se diz na oposição e se faz no governo. O número de Ministérios é superior ao prometido. As escolas vão mesmo fechar. E, pasme-se, os impostos subiram contra todas as expetativas anunciadas.
Uma das medidas essenciais para reabilitar a política e os políticos é tão simples quanto falar verdade e manter uma linha de estreita coerência. Não custa nada. Ora, sucede, uma vez mais, que comparar o que foi dito pelos partidos de direita até há 1 mês e o que é praticado hoje é como comparar alhos com bugalhos.
É, pois, muito bom sinal que a nova liderança socialista de António José Seguro tenha compreendido isto desde os primeiros minutos de vida. De tal modo que tomou duas decisões carregadas de simbolismo e valor democrático. Também aqui uma colossal diferença com a prática habitual.
Decidiu AJS que a regra no grupo parlamentar socialista passa a ser a liberdade de voto e não a disciplina de voto. Coerência absoluta com o que se sempre disse e fez. Reconhecimento do mérito intrínseco do mandato parlamentar em que os deputados não devem ser um bando de carneiros mas gente com capacidade crítica. Aumenta a autonomia e a liberdade individuais? Sim, mas na razão direta também cresce a responsabilidade de propor, criticar e votar.
Concomitantemente, AJS advogou que socialistas na oposição – dentro do tal espírito de liberdade de proposição – não apresentassem nunca projetos que, uma vez no governo, não possam cumprir. Esta é uma regra de ouro da ética republicana e da verdade política. Que colossal diferença!…
Não há nada mais fácil do que parir um projeto de lei ou uma proposta de resolução propondo tudo a todos. O difícil é executar e cumprir! Falta “accountability” à política portuguesa!
O PS de AJS dá assim sinais de enorme maturidade e seriedade. Os passos seguintes são mais mérito, mais competência e mais transparência. Outros colossos para a política portuguesa!…