Laborinho Lúcio recuou, esta quarta-feira (25), aos 10 anos de idade, quando na povoação piscatória da Nazaré, os estudos não iam além da 4.ª classe. Quando quis entrar para o ciclo preparatório teve que começar a viajar, diariamente, até Alcobaça. Apanhava a “carreira”, saía no seu destino e o autocarro lá seguia para Torres Novas.
“Se naquela altura me tivessem perguntado o que era a utopia, eu diria que era Torres Novas. Mas aprendi, na época, que apeei cedo demais da carreira que me poderia levar até lá”, disse.
“Com a experiência que a vida me foi dando, aprendi que é muito mais fácil forçarmos a manutenção dentro da camioneta. Apeamos cedo demais e isso é emanciparmo-nos mais tarde”.
O juiz conselheiro intervinha ontem na tertúlia “O nosso ano, a nossa voz – Emancipação dos Jovens e Democracia”, iniciativa realizada no âmbito do Ano Internacional da Juventude e organizada pelo Instituto Português da Juventude, pela reitoria da Universidade de Coimbra e pela Associação Académica de Coimbra.
Perante uma plateia com pouco mais de uma dezena de jovens, Laborinho Lúcio defendeu que a juventude deve ser um “elemento essencial do diálogo e não um objeto sobre o qual debitamos o pensamento”. “Há que ter coragem para criar uma escola que desenvolva a desobediência crítica. Até porque a previsibilidade estagna a convivência democrática”, diz.
“Dimensão liofilizada do afeto”
Para Laborinho Lúcio, a juventude “tem que ter e criar os instrumentos próprios para vencer e um deles é a luta pela afirmação da cidadania ativa”.
Na sua intervenção, o ex-ministro da Justiça alertou ainda para a dimensão ética dos afetos. “Hoje estamos a ter uma dimensão liofilizada do afeto. Em vez de amarem os outros, amam-se nos noutros. E o afeto é algo que pressupõe reciprocidade”, lembrou.
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