Carlos Lopes é, há mais de três décadas, padre da paróquia de Buarcos, Figueira da Foz. Há cerca de 15 anos, juntou um grupo com o qual iniciou um cantar de homenagem a Nossa Senhora, que é ouvido naquela freguesia na noite de 14 para 15 de agosto. Peculiar, poder-se-á dizer, uma vez que “pega em temas com sabor a fado”.
Uma serenata. “Fugindo ao nome tradicional de vigília”, explicou o pároco ao DIÁRIO AS BEIRAS. Com o passar do tempo, novos elementos foram-se juntando à “prata da casa”, formando um grupo heterogéneo, de diferentes idades, formações e ofícios.
Terça-feira, essas três violas e três guitarras marcaram o compasso de um grupo de vozes que subiu ao palco do Salão Caffé do Casino Figueira, fazendo “eco” das melodias da tradicional serenata. “A serenata não é um espetáculo”, esclarece o padre Carlos, “é um momento de oração e está ligada ao templo”. Como tal, a melodia que ecoou na noite de terça-feira não é uma serenata. Essa, afirma, “é aquilo e muito mais”.
O pároco de Buarcos e o seu grupo não levaram só à plateia o mar, a areia ou as gaivotas que pintam a paisagem da freguesia dos pescadores. Tal como o próprio disse, na abertura do evento, a freguesia “é muito mais do que aquilo que se vê”. “Nos diversos recantos da vila piscatória, Nossa Senhora tem uma morada permanente”, continuou.
E foi assim que entre fados de Coimbra e Lisboa, hinos litúrgicos e cantares de devoção popular, as 13 peças musicais revelaram ao público os recantos da vila e a devoção à santa. No início do espetáculo, o padre Carlos pediu o mesmo ao qual apela na sua igreja quando soa a primeira nota das serenatas: palmas, só no final. Contudo, a plateia não resistiu e, ao derradeiro acorde da segunda peça, a salva de palmas ecoou por uma sala cheia.