Já todos percebemos que afinal, mesmo apesar dos supostos tempos fantásticos, “não há dinheiro para tudo“. Nunca foi diferente, mas talvez porque a economia não esteja a crescer assim tanto, porque os juros irão subir, porque a divida pública continua altíssima, essa ideia venha colocar fim ao optimismo governativo. Na realidade, se pensarmos que , nos últimos anos, temos tido as mais baixas taxas de juro das últimas décadas e que vivemos um ciclo de crescimento económico , este governo tem-se limitado a fazer gestão corrente, sem se preocupar muito com medidas mais estruturais sobre o Estado. No dia em que aquelas variáveis deixarem de influenciar positivamente uma pequena economia como a de Portugal, estaremos com mais dos mesmos problemas. No Estado, a grande maioria das despesas são, naturalmente, recursos humanos. Estes, por sua vez, são essenciais para a realização das suas funções, pelo que são realmente o seu principal ativo. Temos, no entanto e no meu ponto de vista, um problema de base que se relaciona com a sua organização e avaliação. No que respeita a organização, não é possível compromisso sem responsabilidade, e o modo centralista como tudo se constrói não permite gestão e liderança de proximidade. Além disso, a redução do horário de trabalho, em vez da valorização desse trabalho, foi mais um recuo e um sinal errado à sociedade, para desprestigiar a função pública dessas pessoas. Sobre a avaliação, o Estado continua a agir como se os seus funcionários fossem todos iguais e , portanto, sem avaliação, todos progridem automaticamente. Esta ideia aparentemente cómoda faz com que não se valorize quem mais trabalha, tornando toda a gestão de recursos humanos irracional.
Em Portugal ganha-se geralmente mal. Profissões como os médicos ou professores, se dedicados exclusivamente à sua função de serviços públicos não têm salários consentâneos com a responsabilidade e importância do que fazem. Mas, pensar-se que todos são iguais e que todos devem ter progressões automáticas, é um engano sem futuro.
Por falar em recursos humanos, vivemos num tempo em que escasseiam pessoas para funções operacionais nas nossas fábricas, em contraste com as funções administrativas, onde , principalmente os mais jovens, formam filas do lado da oferta. Este é um tema que forçosamente conduzirá a aumento do nível dos salários dessas funções, o que para um País como Portugal poderá ser um avanço social importante. Claro que tudo funcionará bem, se as empresas apostarem de forma contínua em inovação, de modo a competir no panorama interno e externo. Claro que, por sua vez, para essa competitividade aumentar, as empresas e os cidadãos deveriam ter uma carga fiscal menor, deveriam estar expostas a menos burocracia e a menos custos de contexto. Essa parte já depende de reformas do Estado que também deveriam ser contínuas. Essa é a parte que uma boa parte dos partidos políticos não quer enxergar e que este Governo se deixou embalar. Enquanto os juros estiverem baixos e a economia crescer, com muito esforço de muitos portugueses que continuam a trabalhar 40 ou 50 horas por semana, se não mais, e de muitos empresários que arriscam e investem, o embalo não incomodará ninguém em especial. Mas, quando tal deixar de acontecer, talvez e mais uma vez, nos arrependamos de mais uns anos e oportunidades perdidas.