Opinião – Candidatura à Câmara (III)

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Norberto Canha

Encontrámo-nos no dia seguinte, à entrada da Sereia, na Praça da República, e surpreenderam-nos dois factos:
1. O cartaz de um partido político que prometia o céu (e nada ou pouco se produz, para sobrevivermos no inferno).
2. Aquela beleza de jardim, com gatafunhos nas paredes, de jovens libertinos que desconhecem o respeito devido aos mais velhos.
Subimos pela rua que vai ter à Cruz de Celas, passámos pelo campo da Associação Académica que está satisfatoriamente tratado, mas a que uma pintura daria maior dignidade. Logo ao cimo da Sereia está um pequeno edifício recentemente pintado e os escrivões do mal já o borraram com as diatribices. É imperdoável! Não se pode continuar a consentir este procedimento.
Continuando, logo à esquerda, está um conjunto de edifícios englobados na Maternidade Bissaya Barreto. Há muito que mereciam ter sido recuperados, têm qualidade suficiente para que, com ligeiras melhorias, conjuntamente com a maternidade dos HUC, não haja necessidade de se gastarem milhões de euros no momento de penúria em que nos encontramos para construírem uma nova maternidade. Haja decoro! Tenha-se consciência das prioridades.
Os gatafunhos dos edifícios da Cruz de Celas são uma afronta à dignidade de um cidadão e de uma cidade cuja Universidade, Alta e Rua da Sofia, foram classificadas pela UNESCO como Património da Humanidade.
Subindo, virando à esquerda para a rua Bissaya Barreto, surge logo à esquerda o BCG que, coitado, há muito deveria ter a cara lavada. Segue-se, quase logo, um edifício imponente e belo onde esteve instalado o Hospital Pediátrico, e dia-a-dia, está cada vez mais devoluto e degradado.
O meu companheiro ficou encantado com o IPO, com a sua grandeza e estado de conservação (em relação ao que era). Apresenta-se logo a seguir a Escola Superior de Enfermagem que se envergonhou do criador da primeira escola de enfermagem e, se a memória não me falta, ostentava o seu nome (Professor Ângelo da Fonseca).
Segue-se a Faculdade de Medicina Dentária que, se quando no pôr em funcionamento o novo hospital não fosse atribuído a todo o conjunto de edifícios para a ortopedia, em prol da cedência de 99 camas no edifício central, não teria havido cirurgia cardíaca, cirurgia pulmonar, neurocirurgia, e a psiquiatria e otorrino, assim como a cirurgia plástica, não teriam para onde se expandir ou onde se implantar.
Que ecoe um grito de alarme e revolta: no serviço de ortopedia que cedeu esses espaços, e que ficava entre os melhores serviços europeus e de melhor qualidade, estão a encerrar pavilhões e os Conselhos de Gerência e Administração sucessivos, irresponsavelmente, estão a encerrar valências. O ortopedista mais novo do quadro tem 50 anos; muitos operam só de 15 em 15 dias por falta de anestesistas. Causa de tudo isto, e também da falência da governação do nosso país: a aprovação de uma lei em que os directores deixaram de ser eleitos para serem nomeados (sem oposição na Assembleia da República). Surgiu, assim, a subserviência e a iniquidade da governação.
As surpresas para o meu amigo e as minhas considerações não terminaram, porque na cerca do Novo Hospital – isto surpreendeu muito a meu companheiro – está um monumento a António Arnaut e nem uma pequena referência ao Professor Mário Mendes Silva, já que o Serviço Nacional de Saúde estava implantado em todo o império, e o que tem de novo são as carreiras médicas, e o professor Mário Mendes fez parte do grupo em que se incluía o Professor Gouveia Monteiro, Vaz Patto, Mário Mendes e eu, que pouco fiz.
Quanto ao Hospital, não é devido a ele, mas ao coronel de engenharia Pina que, ao visitar o meu serviço no velho hospital, ao ver os doentes no chão (julgava que era uma montagem), impôs 200 mil contos para o início da construção do hospital. Mas a sua ambição era que não ultrapasse os 700 leitos, e quando estava em funcionamento pleno, tinha uma lotação de 1700: o serviço de ortopedia tinha 350 camas, operava-se todos os dias e uma lista de espera de 7000 doentes.
Ao tempo, de Lisboa e Porto vinham doentes de ortopedia para Coimbra, e hoje vão de Coimbra para Lisboa e para o Porto.
Deixe-se a subserviência, vamos dar a Coimbra a dignidade que perdeu e que bem a merece!

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