Opinião: Vem aí o Messias

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Aires Antunes Diniz

Há poucos dias alguém me informou de que iria atravessar a fronteira em lugar algures na Beira, talvez próximo de Vale de Lobo, o Messias há muito esperado que nos libertasse dos ditadores ou aprendizes de política mal-amanhados.

E estes são os que continuadamente impõem a nossa partida para um estrangeiro onde nos perdemos para sempre. Alguns estão agora a regressar para reencontrar um país que lhes continua a oferecer pouco pelo seu trabalho.

Antes, um homem, tinha apostado a vida numa luta sem tréguas contra Salazar, que era um autêntico herodes, acolitado por tantos Pilatos. Por isso alguém, Arquiteto Alfredo Magalhães, conta:

“Lá o informei que Andrade e o dr. Macedo deviam estar presos em Coimbra, se é que não em Lisboa, e soube, também, que Armando Bacelar tivera sorte idêntica: depois de entregar os votos no local combinado, a P.I.D.E. prendeu-o quando espetava o dedo para tocar à porta da casa do General.”1.

Sei agora que um jovem casal vai atravessar no meio da frialdade de Dezembro, que por agora é morno, a fronteira perto do local onde foi assassinado um Messias que muitos sonhavam (des)esperadamente ir mudar o mundo. Mas, este sonho renasce sempre que uma criança nasce e um pai e uma mãe o protegem.

E este ano um jovem casal regressa para estar algures, mas vem cansado, mal agasalhado e vai atravessar a Serra de Malcata, esperançado de que agora não vai ser obrigado a emigrar, tal como há pouco mais de cem anos acontecia que “a classe de jornaleiros e artistas”, “não se conformando com a deficiência dos salários, iam procurar junto dos seus compatriotas, residentes na República Argentina ou no Brasil, a felicidade e conforto que não encontram na sua Pátria”. Leio nas atas da Câmara de Penamacor em 3 de Abril de 1911.

Encontra o casal por todas as aldeias um fogo acolhedor do Madeiro, que lhes aquece alma, mas este é escasso para dar o conforto necessário à criança que acarinham e que querem fazer viver num conforto mínimo.

Infelizmente, são poucas as casas que têm luz e onde possam bater à porta pedindo abrigo por uma noite. Reparam que, tal como eles fizeram, muitos jovens partiram e os idosos, que agora habitam as casas, não têm coragem para lhes abrir a porta, receosos que estão com os roubos e burlas que vão acontecendo.

Entram por isso por um velho portão de madeira escancarado num cabanal, onde há uma vaca e um burro que lhes faz companhia. Comem os dois animais algum feno que o velho e solitário pastor por lá deixou enquanto ia ver arder a fogueira. E ficou feliz ao encontrar o jovem casal e a criança quando regressou para comer o caldo melhorado, que tinha deixado a aquecer. E com eles o repartiu…

1 Manuel Beça Múrias – Obviamente Demito-o, Retrato de Delgado nas palavras dos companheiros de Luta, s/data, pp. 43-44.

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