Notas de uma semana muito frenética

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Norberto Pires

Baixa de Coimbra: vi notícias nos jornais regionais que mostravam o lamento dos comerciantes da Baixa de Coimbra face ao baixo negócio. A Baixa de Coimbra pode muito bem “competir” com as grandes superficies quando perceber que é, pode ser, uma muito diferente grande superficie ao ar livre e perceber que tem de conquistar o rio, associando ao comércio atividades de lazer, tempos livres, etc., numa lógica global em que as acessibilidades e o estacionamento são resolvidas. Muito diferente porque baseada em comercio tradicional, de proximidade, serviços, alimentação (tapas e gastronomia regional), etc., num espaço que se estende até ao rio e tem locais de atividade cultural (música, teatro, galerias, etc.), mas também junta atividades paras as famílias, tudo numa lógica de criar uma nova centralidade. E tem de ser habitada, por forma a ter vida diária, provavelmente criando também no local condições para residências universitárias de alunos de pós-graduação, docentes e discentes visitantes, etc.

Educação Sexual: A educação sexual implica bom senso, ponderação, noção da realidade, informação rigorosa e pessoas sem macaquinhos no sótão. Há coisas que podem e devem ser abordadas nas escolas, mas há outras que devem ser abordadas em primeiro lugar em casa, conversando muito e afastando todos os tabús. A Escola é muito importante, mas não esqueçam o papel essencial da família e a relevância de desmistificar e descomplexar temas que fazem parte da vida e são essenciais a uma vida saudável e feliz. Escola e família são complementares e são essenciais para, em conjunto, afastar dogmas, ideias feitas e muita desinformação.
Ver uma organização de juventude (a JP, associada ao CDS) colocar no mesmo plano a abstinência sexual e os meios anticoncepcionais, como forma de evitar gravidezes ou DSTs, é muito desanimador. Não fico admirado, dada a péssima qualidade da intervenção política a esse nível em Portugal, mas choca-me profundamente por serem pessoas novas que deveriam ter, com facilidade, acesso a informação e ser capazes de propostas bem mais ponderadas e realistas. Na verdade, o documento da JP diz coisas que são de uma gravidade extrema e que me deixam muito triste. Dou somente dois exemplos:
1 ) “Admitimos serenamente que a escola não deve ser encarada como um mero reprodutor asséptico de conhecimentos técnico-científicos”, lê-se no documento da JP. Estão a ver onde isto vai conduzir, não estão? Reprodutor asséptico de conhecimentos técnico-científicos? Enfim… escuso-me de comentar mais porque é profundamente desagradável estar no século XXI ainda a discutir este tipo de coisas, como se a ciência e a informação rigorosa e sem filtros precisasse de alguma modelação, sempre com boas intenções claro, para ser transmitida.
2 ) O Ponto 6 – “Ensinar a Abstinência a par da Contracepção”. Na cabeça destes jovens as duas coisas estão no mesmo plano, isto é, a abstinência é um meio anticoncepcional alternativo. Claro que mascaram o discurso dogmático e cheio de fantasmas com frases bonitas como “liberdade”, “responsabilidade”, etc., mas não o conseguem disfarçar colocando coisas destas no mesmo plano. A sexualidade é para ser vivida de forma livre, responsável, cabal, para que possa ser feliz e fonte de realização. Exige informação técnica e científica sem filtros (o mais asséptica possível, sim – é isso que é informação, caso contrário é manipulação e desinformação), exige conversa e debate, e exige responsabilização: todos têm de perceber que a sexualidade é decisão pessoal e deve ser vivida em total liberdade. Isso significa informação, ausência de dogma e noção clara do que as coisas significam. Isso permitirá decisões conscientes de cada um, que por terem toda a informação e terem sido debatidas e conversadas serão também de bom-senso. A Escola e a Família têm aqui papeis essenciais: na informação, no debate, na preocupação de ajudar na decisão de cada um sobre o momento em que devem iniciar a atividade sexual e de como a querem viver. Isso é que é educar.
Recomendo aos jovens da JP um livro fantástico de Carl Sagan, “O Mundo Infestado de Demónios”. Ao longo das páginas deste livro fantástico e essencial, Carl Sagan explica-nos a razão por que o pensamento científico é essencial e desmonta alguns dos mais populares mitos e pretensões da pseudociência, ao mesmo tempo que refuta convincentemente o argumento de que a ciência destrói a espiritualidade.
A educação sexual deve colocar grande enfoque na total desmistificação da atividade sexual, alertando os jovens para a responsabilidade que têm em decidir quando devem iniciar a sua vida sexual e sobre o seu total controlo sobre a sua sexualidade. E isso deve ser muito aberto, debatido, conversado, não só para que todos interiorizem a importância da vida sexual, mas também percebam que é uma decisão exclusivamente sua, que eventualmente devem conversar com quem confiam (daí a importância das relações de confiança, por exemplo, familiares), e percebam a importância da palavra “não”. É neste contexto de decisão pessoal que pode entrar o conceito de abstinência sexual.
Misturar tudo, ver gente mal resolvida e com macaquinhos no sótão a opinar sobre o que não entendem sequer, é muito desanimador e uma enorme responsabilidade para os educadores, pais e professores, pois percebemos que a desinformação, o dogma, o populismo e o afastamento da realidade domina esta área.

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