Norberto Pires

António Lamas: Não compreendo a forma como o Ministro da Cultura decidiu enxovalhar António Lamas, presidente do CCB e uma grande figura da cultura nacional. É inaceitável. Não só pela evidente falta de educação e comportamento trauliteiro. Mas também, e principalmente, porque os valiosíssimos serviços prestados pelo Professor Lamas ao país merecem todo o respeito. O ministro tem todo o direito de pensar de forma diversa e gerir o seu ministério como entender, o que não pode é insultar quem serviu o país e atuar como chefe de fação. Este país merece um Ministério da Cultura, e ainda bem que este Governo percebeu isso. O que João Soares conseguiu com este lamentável caso foi colocar em causa a imagem de mudança que este Governo procura conquistar. Lamento muito.

Maria Luís Albuquerque: A empresa Arrow Global Group comprou a Whitestar Asset Solutions e a Gesphone, as quais possuem ativos sob gestão em Portugal no valor de 2300 milhões de euros. Uma dessas empresas, a Whitestar, comprou cerca de 300 milhões de crédito em risco do Banif. Tudo isto aconteceu enquanto a Maria Luís Albuquerque era Ministra de Estado e das Finanças. Todo o processo do Banif foi vergonhoso, terminando numa resolução que custou quase 3 mil milhões de euros aos contribuintes. Existe uma comissão de inquérito parlamentar para analisar o caso que avaliará se os ativos foram bem vendidos, ou não, e todo o procedimento que abriu aquela enorme fatura aos contribuintes. A pessoa que representava o accionista principal (os contribuintes) durante todo esse tempo, muda agora ( 3 meses depois de ter saído de funções) para uma das empresas que comprou os créditos. Se essa pessoa não vê o evidente problema moral e ético aqui envolvido, fica demonstrado que temos um problema na nossa democracia. Um problema muito grave e que tem a ver com a qualidade das pessoas que elegemos para gerir os nossos interesses. Um político sério tem de saber que há impedimentos legais, mas para além deles há também impedimentos morais e éticos. Não ter vergonha na cara é absolutamente lamentável. E concordo totalmente com o jornalista Paulo Baldaia, ex-diretor da TSF, quando ele diz que a culpa é de todos os deputados que são incapazes de fazer um lei de incompatibilidades que acabe com esta pouca-vergonha.

Matos Correia, vice-Presidente do PSD: fez no parlamento, e a propósito do affair Maria Luís Albuquerque/Arrow a seguinte declaração – “em democracia, no exercício destas funções, não pode haver juízos morais, porque os juízos morais dependem de um caso para o outro. O que interessa é o que o legislador quis e o cumprimento das regras a que estamos sujeitos”. Um dia o PSD vai perceber o buraco que está a cavar para si próprio e que muito dificilmente se levanta deste tipo de coisas.

1,8 mil milhões: A condenação do Estado Português no tribunal de Londres, relativamente às contratos Swaps cancelados unilateralmente pelo Estado em 2013, equivale a sensivelmente 1,1% do PIB, ou seja, 1,1% daquilo que produzimos anualmente. Esse valor é também cerca de 31% de todo o orçamento da Educação para 2016, equivale a 171% do orçamento do Ensino Superior e Ação Social (o valor no OE2016 é 1055 milhões de euros para todo o ano) ou 75% de todo o orçamento para Ciência e Ensino Superior ( 2.4 mil milhões de euros). Dramático! É preciso parar para pensar no que andamos a fazer a este país. Os INCOMPETENTES que andamos a eleger custam-nos MUITO CARO.

Repito o que já disse aqui nestas minhas páginas de crónica: Tudo isto são sintomas de um problema muito maior: a falta de ética e decência na vida pública. Há uma enorme diferença entre ter o direito de fazer algo e ser correto fazê-lo. Essa diferença chama-se ética, e o modo de atuar tendo por base essa diferença é a decência. Muita gente, nomeadamente na vida pública – o que é preocupante-, não faz ideia das regras da ética nem o que é um comportamento decente.