Opinião – A Festa do Pontal

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Marisa Matias

Pela segunda vez, escrevo sobre a festa do Pontal. Passos Coelho prometeu ser ele próprio o portador das más notícias, quando elas viessem, isso deixa-me mais descansada. Passemos, por isso, às boas notícias. O primeiro-ministro anunciou o fim da recessão para 2013.

Foi esse o epicentro das suas declarações. Mal-agradecidas, vieram logo as vozes do contra. Passos Coelho dá-nos uma boa notícia e vêm logo os abutres do costume dizer mal.

Vamos por partes. Assumamos que é verdadeira a afirmação do primeiro ministro. No mínimo, dava uma concentração no Marquês de Pombal, com buzinadelas e tudo o que é devido nestas circunstâncias festivas. A crise está aí mas vai passar, é tudo uma questão de tempo. Mas a festa não dura muito. Em que é que Passos Coelho se baseia para tão abonatório futuro? O controlo do défice, alfa e ómega da política governamental, estará no bom caminho? A resposta é não. A dívida pública está a diminuir? A resposta continua a ser não. O desemprego estará no rumo certo? Não: acabámos de atingir mais um máximo histórico. De acordo com os dados do INE, há a possibilidade de um em cada quatro portugueses estar desempregado. Estará, então, a economia a crescer? Também não. Está a regredir – os dados do PIB assim o dizem e todas as previsões estão para além das do governo.

Estamos, portanto, perante um dilema. Acreditamos nas palavras do governo ou aplicamos o princípio da desconfiança com base no que a realidade nos diz? É preciso desdobrar os indicadores. A economia não cresce, antes encolhe. O desemprego alastra como nunca. O défice foge sempre às previsões oficiais. Ou os astros se juntaram todos para contrariar a festa ou há qualquer coisa que explica tudo isto. E, então, que coisa é essa? É simples: austeridade. A austeridade a que o governo insiste em chamar consolidação orçamental, que continua a cortar salários e pensões e a reduzir o poder de compra. A austeridade que toca sempre aos mesmos e que teima em não abandoná-los.

Ou o primeiro ministro está em estado de negação ou a realidade tem sido ingrata em não acompanhá-lo nas previsões. Não faltam muitos meses para perceber de que lado está a razão. Cada dia que passa mostra da forma mais brutal aos que pagam a crise que, afinal, não estamos num mar de rosas. Passos Coelho diz que tem o milagre no orçamento para 2013 e que serão mal-agradecidos todos os que não compreenderem a sua proposta. A isso chama-se chantagem ou, em bom português, albarda-se o burro à vontade do dono. O futuro está já aí e ou andámos todos a ser muito injustos com o primeiro ministro ou muitas explicações terão de ser dadas.

Que a democracia resolva o dilema.

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