Consegue viver sem esperança?

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Marisa Matias

Diz-me, sabes viver sem esperança? Claro que não. Se soubéssemos, como é que vivíamos? Olha para nós, tenta ver-nos de fora. Já imaginaste? Vivemos a lutar por coisas e, convenhamos, a maioria não sonha os mesmos sonhos que nós. E nós? Acreditamos que um dia talvez e continuamos.

No fundo, de quando em vez é-nos momentaneamente atraiçoada a esperança por não nos deixarem experimentar o que seria a vida se os nossos sonhos fossem vividos. Eu gostava de um dia poder pôr em prática o que defendemos, com todos os riscos e sem nenhum dos medos. Tu não? Tenho pena de nunca ter podido ‘sujar as mãos’, mas já lá andámos perto muitas vezes. Foram mais as coisas que mudámos do que pensamos e a traição não é coisa que caiba bem no coração. Passa e volta a esperança.

O que é que ficou por dizer? Nada ficou por dizer. Tudo o que era para ser dito, ficou dito. Lembra-te disso, sempre. Se as palavras não te saem porque coladas à garganta ou amarradas no peito é porque não quiseram sair. Engolem-se, transformam-se em gestos, desaparecem. Às vezes o problema são as palavras a mais e até com essas se aprende a lidar. É a vida a deixar-se viver.

E as mágoas? Enterram-se. Não servem de nada, consomem tudo. Devemos evitar o ressentimento, o ódio, as vaidades reprimidas. Do passado devemos usar o saber e o que dele aprendemos de útil para a frente. Útil? Sim, o que pode ser usado. E ressentimentos? Não consigo entendê-los. E sabes bem que a minha falta de memória é quase uma lenda.

Ainda é tão cedo, fica mais um bocado, sim? Não é cedo, não é tarde. Foi o tempo que o tempo permitiu. Foram muitas as vidas dentro desta vida e foram quase sempre muito boas. Havia ainda projectos, há sempre projectos para fazer. Sabes bem como estamos sempre a fazer contas de multiplicar. Continua com os teus, abre campo ao teu experimentalismo, consegues sempre. Sempre? Pronto, quase sempre.

O que sentes agora? Paz. Muita paz.

E agora, Miguel? É simples: voa. Voem.

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