Tex na Patagónia

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 João Miguel Lameiras

 

Mais uma vez, a série “Tex”, verdadeiro fenómeno de popularidade em Itália, volta a ser objecto de referência nesta coluna, por via de um novo “Texone”, edições anuais em formato maior e com uma produção mais cuidada, que a Mythos Editora fez chegar aos quiosques portugueses na passada semana.

No caso deste “Tex Gigante” nº 23, escrito por Mauro Boselli e ilustrado pelo italiano Pasquale Frisenda, Tex e o seu filho Kit viajam até à Patagónia, nos confins da Argentina, para mediar um conflito entre o exército argentino e as tribos locais, naquela que é, de muito longe, a melhor história de Tex que já li. Larga e justamente premiado em Itália, este “Patagónia” alia o exotismo de um cenário pouco habitual para um Western, como as Pampas argentinas, a um argumento muito bem construído por Mauro Boselli, o criador da série “Dampyr”, também já referida nesta coluna. Uma história movimentada e cheia de acção, que aborda com realismo o genocídio das tribos índias, protagonizada por personagens caracterizadas com profundidade (a esse nível, a excepção acaba por ser o próprio Tex…), com destaque para o Coronel Ricardo Mendoza, um militar dividido entre a honra e o dever, cuja personalidade vai evoluindo ao longo da história.

Outro ponto muito forte deste “Patagónia” é o excelente trabalho de sombras de Frisenda, desenhador habitual da série “Mágico Vento”, que se revela aqui um verdadeiro mestre do preto e branco. Sem ser um virtuoso do desenho, Frisenda é um bom desenhador em geral e mesmo muito bom em termos narrativos e de planificação: veja-se a cena inicial do ataque dos índios Tehuelches a Três Arroyos, ou o sangrento combate final no desfiladeiro.

Para quem nunca leu uma história de Tex, este “Patagónia” pode ser um óptimo ponto de partida, pela grande qualidade da história e eficácia dos desenhos (ao contrário do que é habitual nestes “Texones”, onde o ênfase maior é geralmente para o trabalho superlativo do desenhador convidado, ao serviço de um argumento que muitas vezes é apenas funcional). Além disso, estas edições gigantes têm uma óptima relação qualidade/preço, com uma história de 242 páginas em grande formato, por apenas nove euros, a justificar bem o trabalho de procurar este “Tex: Patagónia” no meio das revistas e das colecções de livros e DVDs que invadem os quiosques nacionais, deixando um espaço cada vez mais reduzido para a Banda Desenhada.

(“Tex Gigante nº 23: Patagónia”, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda, Mythos Editora, 242 pags, 9,00 €)

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