Tomei conhecimento

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“Coimbra é assim. O “Taxeira” morreu, mas existem dois ou três personagens que toda a cidade conhece. Há até uns quantos “loucos” emblemáticos, como em todas as vilas e pequenas cidades deste país de misérias”. O comentário do João vinha a propósito da morte do Luís Miguel, o “aspirante”.

No passado domingo, de manhã, transeuntes avisaram as autoridades para a presença de um corpo a boiar no rio Mondego. Era o Luís Miguel. Figura conhecida na Baixa. Com 38 anos, o Luís Miguel sofria de perturbações mentais devidas a grave acidente, assim reza a história, no serviço militar, como aspirante do exército. O Luís vagueava pela cidade, o pior era o álcool, sob o seu efeito tornava-se provocador, violento.

A mãe falecida há meses vivia num bairro municipal. Agora, o Luís estava, quando estava, com uma tia, numa habitação social. Acompanhei nos últimos meses as diligências de diversos serviços para encontrar uma “solução” para o Luís Filipe. Por várias vezes foi internado, noutras tantas, teve “alta”. Para o Luís não havia instituição de acolhimento. Técnicos de diversas instituições desesperavam. A PSP não sabia mais o que fazer quando chamada a intervir em mais um desacato ou acto violento.

Constato que o meu país não tem soluções de apoio para pessoas como esta, ou que as soluções são dificílimas de encontrar. Diligências atrás diligências, responsabilização ou não de familiares, segurança social, autoridades de saúde, inimputabilidade, juntas médicas, instituições de acolhimento, ministério público… um calvário! Portugal não cuida dos que são diferentes, ou quando o faz, já é tarde.

Recentemente, encontrara-se uma luz ao fundo do túnel. Em Setembro, o caso Luís Miguel iria ter um desfecho, as instâncias judiciais determinariam o seu acolhimento definitivo em instituição adequada.

No domingo, durante a transmissão dos noticiários televisivos, em rodapé, anunciou-se a morte de um homem por afogamento no Mondego.

Na segunda-feira, lia os jornais da cidade que anunciavam a morte do “aspirante”, quando reparei que entre dois ou três processos pousados na minha secretária momentos antes, estava o processo de M. F. Fabião, ex-inquilina do Bairro do Ingote, com a informação relativa às múltiplas diligências efectuadas por vários serviços oficiais relativamente ao seu filho Luís Miguel. Para conhecimento do vereador da habitação, e dado o interesse persistente do departamento da habitação em querer conhecer o destino (e em ajudar a encontrar solução) de um familiar de residentes em bairros sociais, informava-se que por comunicação de entidades responsáveis finalmente se perspectivava um desfecho feliz, com o acolhimento deste cidadão, que além de usufruir de cuidados de saúde, deixaria de perturbar os munícipes. Tomei conhecimento! Da luta dos técnicos municipais, afinal os únicos que pouco ou nada tinham que ver com o assunto! Das diligências sem fim de instituições sem fim, da morte do “aspirante” e da incapacidade do sistema!

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