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Opinião: Os 50 anos… da “Cidade Fantasma” (2ª Parte)

13 de setembro às 21 h18
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No final do artigo anterior (Diário As Beiras, 19.07.2024 ), primeira parte deste tema, tínhamos ficado no momento da invasão turca da parte norte da ilha de Chipre, em julho de 1974, depois da respetiva contextualização quanto aos seus antecedentes.
Eis-nos agora perante a nossa “cidade-fantasma”, Varosha. Esta condição, cidade abandonada, resultou daquele breve, mas impactante conflito (guerra greco-turca), como se percebeu pelo texto anterior. A cidade de Famagusta era, antes destes acontecimentos, um dos mais atrativos destinos turísticos do Chipre, até da Europa(!), sendo o seu quarteirão mais a sul e encostado ao mar mediterrâneo, Varosha, a área mais popular, pujante de animação e glamour, muito frequentada por turistas europeus e americanos, dentre os quais celebridades como Brigite Bardot, Raquel Welch, Elizabeth Taylor, Richard Burton e alguns mais. Com 6,19km2 de área e cerca de 500 edifícios, entre residências familiares, hotéis, restaurantes e lojas, esta zona turística era designada também como a “Riviera do Chipre”. Sendo a quase totalidade da população daquele local de origem grega (cipriotas gregos), com o eclodir do conflito militar, os bombardeamentos aéreos (ainda assim escassos pelos vestígios que ficaram nos edifícios do bairro), a invasão pelos paraquedistas turcos e o recuo do exército cipriota grego, levou a que a população de toda a região fugisse de suas casas, temendo um “banho de sangue”, abandonando-as em poucos minutos. Diz-se que comida ficou ao lume, televisores e rádios ligados, brinquedos espalhados pelos jardins, tal foi o sobressalto de terror.
E como nasce a “cidade fantasma”? Tendo Famagusta ficado do lado turco de Chipre após o estabelecimento de uma fronteira entre o lado grego e o lado turco da ilha, foi permitido, naturalmente, aos cipriotas turcos o regresso a suas casas, mas não aos cipriotas gregos, maioritariamente instalados no bairro de Varosha. Daí que, para impedir o regresso dos habitantes originais e de forma a marcar a totalidade da posse daquele território, o bairro, a antiga e famosa instância balnear, foi vedado, encerrado, sendo proibida a entrada a qualquer civil. Encerrou-se também assim uma parte muito importante da história daquele território, o turismo e sua economia, a vida social, cultural e quotidiana de habitantes e visitantes. Fecharam-se vidas, ficando apenas, principalmente para os antigos residentes, recordações do local onde nasceram, cresceram, onde os seus antepassados morreram. Podemos imaginar a sua dor.
Entretanto, nestes 50 anos, após intervenção das Nações Unidas, com várias resoluções também em termos de mediação do conflito (sem qualquer consequência importante), com uma presença militar garantindo zonas de segurança neutrais, processos jurídicos de antigos habitantes solicitando o regresso e/ou ressarcimento económico sobre as propriedades e bens perdidos, o que mais se conheceu foi o arrastar de toda a situação, com indefinições, várias, com imutabilidade, isso, sim, do encerramento e fechamento do espaço, com a erosão impressionante dos edifícios. O que criou, precisamente, um cenário que apenas conhecemos dos filmes ditos pós-apocalípticos, que nos impressiona de forma marcante se ali nos encontramos, se no meio daquelas ruas somos colocados (aquilo que tive oportunidade de fazer). Isto é possível porque nos últimos anos o governo da denominada República Turca de Norte do Chipre reabilitou alguns arruamentos, permitindo visitas (turísticas?!?!) a uma pequena parte de Varosha, mas continuando a proibição da entrada de cipriotas turcos, situação já mais aligeirada nos nossos dias e até se fala na possibilidade de antigos residentes (no momento do abandono do local seriam ainda crianças) poderem entrar. Mas subsiste a polémica, teme-se que subsistirá por mais alguns anos e decisões controversas do lado turco. Um lugar impressionante! Conheça as imagens, do antes, do depois, do hoje, aqui:
https://www.bing.com/images/search?q=varosha+imagens&form=HDRSC4&first=1

Autoria de:

José Luís Marques

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