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Opinião: “Política e cidadania – Dois factos recentes”

19 de setembro às 17 h13
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Em qualquer sociedade, o contributo da sua população para a vida democrática do seu País depende da relação de forças que for capaz de estabelecer no seu seio, dependendo essa relação dos seus diversos intervenientes.

Uma sociedade aberta que discuta os problemas sem interesses ocultos, defenda os mesmos direitos para todos os cidadãos, que recusa o populismo fácil e apelativo, e que serenamente procura o equilíbrio, está de facto a investir numa Democracia. A falta transparência, a falta de ponderação entre direitos e deveres, a falta de serenidade na abordagem dos problemas, leva ao aparecimento de excesso de “activismos”, caminho rápido para o abuso de autoridade. As democracias têm como finalidade o interesse geral da colectividade e esse deverá ser o pilar de toda a actividade política. Só assim serão possíveis as grandes opções que um País tem de enfrentar quando quer traçar rumos de um destino colectivo e livre.

Quando no início me referi ao contributo da população para a consolidação da democracia entendi-a com uma abrangência grande: governantes, políticos de todos os partidos, jornalistas, comentadores, promotores da cultura, etc., etc., acabando no cidadão comum. E fi-lo porque atravessamos um momento temporal em que a crispação política é já um facto no nosso País: Assistimos a repetitivos noticiários de um acontecimento enquanto não surge outro que depois se repete também (para não falar na manipulação na escolha e abordagem desses acontecimentos), ouvimos discursos políticos estéreis que por vezes destroem tudo só a espumar ódio e por vezes com falta de seriedade no que se analisa de bom ou de mau no País.
Concretizemos o que acabo de referir com dois acontecimentos recentes: Incêndios e Elevador da Glória.

Perante acontecimentos tão graves, em vez de o foco da atenção se concentrar na união de esforços de autarquias, governo, oposições e todo o tipo de forças políticas ou sociais, para arranjar ou propor soluções para poupar ou salvar o País da catástrofe, foi com tristeza que assistimos a discussões sobre culpabilidades ou não culpabilidades, de agora ou que já vêm de trás, a aproveitamentos políticos que servissem de trampolins para atingir certos objectivos políticos ou pessoais. Informações e discussões técnicas, propostas sérias (e não demagógicas) de soluções imediatas, a médio e a longo prazo? Zero.

No caso do Elevador da Glória, a atenção que devia estar virada para os feridos e os mortos, e aguardar-se com serenidade a procura da causalidade dos factos e a sua discussão no momento próprio e adequado, entra num vazio caótico, com cada qual a apontar o dedo ao que mais lhe interessa. Com uma tragédia com tantas vítimas estrangeiras, certos partidos chegaram a ter comportamentos desrespeitosos para o nosso o País, não acautelando a nossa imagem no estrangeiro.

Quanto aos incêndios, em Portugal repetem-se monocordicamente as críticas ao problema estrutural que existe, com raízes numa floresta com monoculturas de pinheiros e eucaliptos, com modelos económicos que privilegiam o lucro sobre a segurança. Incêndios que acontecem por negligência ou acção de incendiários. Incêndios sem um combate devidamente estudado, programado e acautelado. Incêndios a que não será alheio o próprio abandono rural. E todos os anos e em todos os governos, na mesma altura, o cenário se repete!…

O clima de crispação a que assistimos começa a ser a regra e a democracia, que devia existir para haver capacidade de afirmação, solidariedade e unidade entre todos, transforma-se em momentos de agressão e polos de ódio que traem os valores da liberdade, os valores que definem uma Democracia.

Autoria de:

Maria Helena Teixeira

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