Opinião: Um zoológico humano?!
Ao fundo da rua onde trabalho há uma estátua equestre que, desde que aqui cheguei, vejo regularmente vandalizada. Às vezes tingida de vermelho nas mãos, outras vezes tapada com tecido nos olhos, e noutras ocasiões decorada com palavras como “assassino” ou “vergonha”.
Trata-se do rei Leopoldo II (1835-1909), segundo monarca dos belgas, uma figura polémica pelos excessos do seu reinado no antigo Congo belga, actual República Democrática do Congo. Por ironia, a estátua encontra-se junto ao palácio real, a escassos metros do bairro de Matongué (baptizado em referência a uma área de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo).
O vandalismo sobre as suas estátuas já é de tal ordem que as cidades de Antuérpia e Mons decidiram transferir as suas estátuas da via pública para a segurança interior de museus. Algumas cidades também removeram o nome do monarca da sua toponímia.
O monarca Leopoldo II é acusado de ser responsável pela morte de aproximadamente 10 milhões de pessoas no Congo quando o país era uma província belga, entre 1885 e 1908, num cenário de violência, fome, exaustão, doenças, mutilações, violações,…
Na Exposição Universal de Bruxelas de 1958, Leopoldo II foi o dinamizador de uma inenarrável exibição de um “zoológico humano”, com homens, mulheres e crianças do antigo Congo. Em pequenas jaulas de bambu estavam famílias inteiras vindas de áfrica, que os visitantes podiam observar, alimentar ou acariciar…
Não admira portanto que a polémica em torno do monarca se tenha reacendido com as recentes manifestações contra o racismo em várias cidades do mundo (incluindo na Bélgica). E não parece estar para breve o fim do vandalismo na estátua ao fundo da rua…