Opinião: Valha-nos a “Resiliência”

Quando em Março de 2020 Portugal percebeu, tardiamente, que a pandemia era uma realidade instalada e que as suas consequências se afiguravam devastadoras, todos antecipámos o incansável papel que os profissionais de saúde viriam a ter num período sem paralelo da nossa história recente. A todos Estes rogámos altruísmo e elogiámos dedicação. Assumimo-nos gratos.
Montou-se o palco e transformámos políticos em atores principais de uma peça cujo enredo revelaram desconhecer, bem como permitimos que cada um de nós comentasse o desconhecido com a soberba de um douto.
A memória recorda-nos a inadequação das estruturas físicas dos nossos equipamentos de saúde e a total ausência de recursos, bem como a desorganização estruturante perante o desconhecido, obrigando-nos a consciência, num genuíno exercício de honestidade intelectual, a reconhecer que os momentos de desespero só foram suplantados por força da capacidade de superação de todos os profissionais de saúde. Para estes, os dias deixaram de ter horas, reinventaram rotinas, venceram adversidades e devolveram esperança.
Para os políticos, e logo que convictos de que a tormenta havia sido ultrapassada, cedo se permitiram questionar competências dos proclamados “heróis” de ontem, mesmo que inadvertidamente, considerados de “pouco resilientes”, sendo a resiliência, porventura, a principal característica que estamos obrigados a reconhecer a todos os que abraçaram a missão de combater a pandemia.
Ora antes de comentar fui ver o CV deste senhor e qual não é o meu espanto quando, desde muito novo sempre foi Vice-President, President, Chairman e outros que tais de várias entidades ligadas a saúde. Pessoa muito competente, de certo, ou mais certamente, com as cunhas certas.
Posto isto, e comentando a opinião em si, só tenho a dizer que o segundo parágrafo também se aplica a si, que só tem a experiência do gabiente de administração (se é que lá põe os pés).
A pandemia foi uma situação nova para todo o mundo e as críticas que faz de desconhecimento aplicam-se tanto aqui como na Alemanha, nos EUA ou em Omã.
A questão da resiliência já teve um pedido de desculpas da Ministra (que passou quase imperceptível nos mesmos meios de comunicação que a cruxificaram) e a explicação do que pretendia dizer.
Mas, como estamos em período de pré campanha, temos de começar a atirar a tudo o que mexe para que aparentemente independentes e sem contexto político se transmitam rápidas mensagens com objectivo bastante político.