Opinião: Uma inteligência diferente

Numa recente entrevista à Bloomberg, Satya Nadella, CEO da Microsoft, referia-se à tendência de se querer descrever a Inteligência Artificial (IA) em termos humanos, com afirmações como “a IA aprende”. Uma tendência que fica ainda mais forte à medida que as empresas de tecnologia lançam produtos com maior capacidade em manter conversas em tempo real. Nesta entrevista, o homem que tornou a Microsoft 10 vezes mais valiosa na sua década enquanto CEO, referia-se ao facto de os utilizadores precisarem de estar cientes de que o que a IA apresenta não é inteligência humana. “Tem inteligência, se lhe quisermos dar esse nome, mas não é a mesma inteligência que eu tenho”, referia.
Na verdade, Nadella chega a lamentar a escolha do termo “inteligência artificial”, usado desde a década de 1950: “é um dos nomes mais infelizes – gostaria de a apelidar de “inteligência diferente”, referiu. Por outro lado, entende que a IA só deve ajudar quando quisermos. “Essa é a relação ideal, não gosto de antropomorfizar a IA”, referindo-se à atribuição de características humanas a uma máquina.
De outra perspetiva, Sam Altman, CEO da OpenAI (ChatGPT) referia-se ao facto de que “o mais importante é sabermos que os modelos (de IA) vão continuar a ficar cada vez mais inteligentes”. Duas formas distintas em que verbos e substantivos, normalmente reservados a pessoas, estão a ser usados para descrever IA.
Estes comentários conduzem a um debate na indústria de tecnologia sobre a humanização dos serviços de IA, num momento em que a tecnologia avança e responde de formas que parecem cada vez mais humanas, por exemplo com os assistentes pessoais de voz em constante evolução e a demonstrarem que podem “entender emoções e expressar sentimentos próprios”.
Os computadores, esses, estão equipados com uma capacidade cada vez superior de análise e interpretação de dados, o que não quer significa que sejam dotados de uma “inteligência” equiparável à humana. A Microsoft, no anúncio recente dos seus novos modelos de computadores portáteis, referia-se às novas funcionalidades de criação, edição e procura de conteúdos com base em IA. Então e como pode a IA aprender sem dados? Apesar de a empresa assegurar que todos os dados serão totalmente privados e que não serão acedidos e utilizados para treinar modelos de IA, as funcionalidades anunciadas motivaram de imediato ataques da indústria, de novo em torno da discussão da privacidade da informação.
Na mesma semana em que a Europa deu finalmente luz verde final à legislação sobre Inteligência Artificial, com a entrada em vigor do AI Act que coloca este continente na vanguarda deste domínio, dada a necessidade de transparência dos sistemas de IA, ouvimos do líder da Microsoft a mensagem de que ainda se está apenas no início desta revolução. Que já progredimos muito, mas que acima de tudo, estamos ainda nos primeiros tempos da mudança. E assim concluía Nadella “Estamos a entrar numa era em que os computadores não só nos compreendem, como antecipam o que queremos e as nossas intenções!”.
Pode ler a opinião na edição impressa e digital do Diário As Beiras