Opinião: S. João e a Batalha de Macau
Os mais de quatrocentos anos da presença portuguesa em Macau fazem com que a sua história tenha, invariavelmente, a marca da epopeia lusitana na sua peculiar identidade.
No dia em que se celebra o segundo dos três santos mais populares de Portugal, nada como lembrar um desses episódios, a famosa Batalha de Macau.
Corria o ano de 1622, quando com o objetivo de dominar a mais rica e importante rota comercial no extremo oriente (Macau Nagasaki), porta de entrada ao comércio com a China, a poderosa armada holandesa decide tomar Macau.
Mais de 800 holandeses chegam à Baía da Praia Grande, tendo tentado invadir a cidade na manhã de 24 de Junho. Com parte da população fora do território por essa altura, 200 defensores, entre os quais portugueses, chineses, macaenses e escravos, uniram-se na defesa da sua cidade. Em posição claramente deficitária, eis que um tiro de canhão do Padre Jesuíta, Jerónimo Rho, acerta em cheio num vagão de pólvora inimigo, desconcertando por completo as tropas adversárias.
Os holandeses veem, assim, a sua tentativa de invasão sair completamente frustrada, tendo o fracasso de Macau levado a uma total alteração de planos e consequente abandono de fixação na costa chinesa.
Macau festejou com júbilo tal feito, alforriando os escravos que lutaram estoicamente pela terra e deslocando-se às igrejas para agradecer a intervenção divina em dia de São João.
São João Baptista já era celebrado em Macau antes de 1622, mas só depois da Batalha foi proclamado Santo Patrono da cidade, tendo o Leal Senado decretado o dia 24 como o dia da cidade do Santo Nome de Deus – Macau, assim se mantendo até à transferência de administração, em 1999.
Entre 1999 e 2007 os festejos de São João foram interrompidos, tendo sido retomados, desde então, com um Arraial no Bairro de São Lázaro, o qual foi, inclusivamente, acrescentado ao inventário do património cultural intangível de Macau em 2020.
Muito embora não se tenha mantido o 24 de Junho como dia da cidade, este é, sem dúvida, um evento macaense único, intimamente associado à história da cidade de Macau tal qual a conhecemos.
Parafraseando José Simões Morais, este foi o acontecimento onde se “foram as socas, o calvinismo e as tulipas, ficando o vinho, o bacalhau, os Jesuítas e o macaense… foi milagre”!