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Opinião: Robert Schumann, o Venerável

27 de maio às 09h01
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A União Europeia comemora o seu aniversário a 9 de Maio. Foi nesta data, em 1950, por ocasião do 5º aniversário da aceitação da rendição da Alemanha na 2ª Guerra Mundial e correspondente fim da guerra em território europeu, que o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Robert Schumann, proferiu uma célebre declaração, em que pela primeira vez se apresentaram publicamente as ideias que levariam à criação da União Europeia.

Na altura, no rescaldo da 2ª Guerra Mundial e no início da Guerra Fria e corrida ao armamento nuclear, tornava-se essencial garantir que uma futura guerra entre a França e a Alemanha “se tornasse não apenas impensável, mas também materialmente impossível”. A declaração proferida por Robert, inspirada por Jean Monnet e pré-negociada com o chanceler alemão Konrad Adenauer, começa assim por constatar que “a paz mundial não pode ser salvaguardada sem os esforços criativos à altura dos perigos que a ameaçam.” É a esse esforço criativo, obreiro da paz, que a declaração dá corpo, através da proposta de criação da entidade que viria a tomar corpo inicialmente como Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e que evoluiria nas décadas seguintes até à atual União Europeia. As quase oito décadas que entretanto transcorreram correspondem inegavelmente a um dos períodos de paz e prosperidade mais luminosos na história da Europa.

Não espanta por isso que o Papa Francisco, respondendo a perguntas de jovens italianos (numa audiência em 2015 ) sobre as relações entre a fé e a política, os incentivasse a fazer e a envolver-se em política, citando de cor S. Paulo VI: “a política é uma das mais elevadas formas de caridade, porque procura o bem comum”. Respondendo às objeções sobre a “falta de pureza” da política, acrescenta que “fazer política é importante, a pequena política e a grande política. Na Igreja Católica há tantos católicos que fizeram uma política limpa, boa, e que favoreceu a paz entre as nações. (…) Pensem em França: Schumann, cuja causa de beatificação está aberta. É possível tornar-se santo a fazer política.” Foi já em 2021 que o Papa autorizou a promulgação do decreto “das virtudes heróicas do Servo de Deus Robert Schumann”, que assim assumiu a condição de Venerável, prévia à beatificação.

Numa altura crítica da vida europeia e mundial, é altura de reafirmar o pressuposto da Declaração de 1950: “a paz mundial não pode ser salvaguardada sem os esforços criativos à altura dos perigos que a ameaçam.”

Esses esforços criativos, como a refrescante novidade da criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço em 1950 demonstra, não correspondem a medidas facilmente recauchutadas do passado (onde abundava o ressentimento, a fácil tentação de humilhar os vencidos e a expetativa de tirar o máximo proveito), mas sim a um difícil caminho de construção e diálogo em prol do bem comum.
Venerável Robert Schumann, ora pro nobis!

Autoria de:

Rui César Vilão

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