Opinião: Queima das Fitas – 125 anos

As origens da Queima das Fitas perdem-se no tempo. Por toda a história dos estudantes há registos de festas ou eventos para celebrar o fim dos exames ou a passagem de ano.
Em meados do Séc. XIX, o último dia de aulas era conhecido como o dia do ponto. Após a última badalada da Cabra, os estudantes celebravam a até de madrugada com récitas, saraus artísticos e as latadas da praxe com os Caloiros. O conjunto destas celebrações posteriormente ficaram conhecidas como “As Festas do Ponto” tendo sido celebradas até 1898.
Não se sabe precisar exactamente quando mas, a partir de uma certa altura, no dia do ponto, os estudantes do 4º ano dos cursos de Direito e de Teologia começaram a juntar-se à Porta Férrea onde cavavam um buraco e incendiavam as fitas que usavam para atar as suas sebentas e apostilas (espécie de caderno). Este gesto simbolizava a liberdade recém-adquirida do estudo, ou seja, o término do curso.
A cerimónia propagou-se por toda a Universidade e cada curso passou a ter também a sua própria queima na tarde do dia do ponto, antecedendo a Latada emancipadora de Caloiros, que ocorria durante a noite.
Um Caloiro cavava um buraco em frente da Porta Férrea, e os quartanistas atiravam para lá as fitas, ateando-lhes fogo como remate final e última homenagem os quartanistas juntavam-se todos à volta do buraco e…urinavam todos ao mesmo tempo para a cova das cinzas.
Este gesto desapareceu com o encalcetamento da fronte da Porta Férrea, que impediu a criação de novas covas e foi substituido pelo colocar das cinzas num gorro para as atirar da Torre da Universidade ou ao Rio Mondego. Em 1898, os quartanistas de Medicina decidiram atar as suas fitas presas a balões, enquanto que os de Direito enterram-nas no Largo da Feira.
Em 1899, com a organização do Centenário da Sebenta, as celebrações académicas ganham uma nova pujança. Realizado durante 3 dias ( 28, 29 e 30 de Abril), o Centenário da Sebenta teve um programa oficial que culminou num grandioso cortejo de carros alegóricos.
O Centenário da Sebenta introduziu uma forte componente satírica e humorista às festividades académicas e, pela primeira vez, deixou de ser uma celebração restrita aos estudantes pois contou com a participação toda a cidade de Coimbra. Devido à sua ampla aclamação e ao seu extenso programa de vários dias com saraus, serenatas, alvoradas, cortejo e bailes, o Centenário da Sebenta é visto como sendo a festa percursora e fundadora do modelo actual da Queima das Fitas. O sucesso do evento foi tanto que nos anos seguintes os vários cursos adoptaram e inspiraram-se no seu formato.
Apesar do gesto de “queimar as fitas” ser mais antigo do que os 125 anos hoje celebrados, foi através do impacto e magnanimidade do Centenário da Sebenta que serviu como catalisador para a Academia evoluir o seu cerimonial celebrativo.
Assim, e à falta de melhor data, considerou-se legítimo que, dentro do contexto evolutivo e histórico da festa, o Centenário seja oficializado como o ponto de partida para aquilo que hoje em dia é a maior e mais irreverente festa Académica do mundo! Às inúmeras gerações da Queima das Fitas, os meus parabéns e um grande FRA!