Opinião: Portugal não está para jovens: a destruição silenciosa do futuro

No atual panorama político e social marcado por divisões geracionais, a banalização quotidiana da imagem dos jovens que procuram no estrangeiro o que o seu próprio país não lhes proporciona, torna-se um reflexo inquietante da realidade que enfrentamos. Este não é um país pensado para os jovens. Diz-se, frequentemente, que o futuro está nas mãos das gerações mais novas, e encoraja-se a juventude a tomar a iniciativa para sonhar e criar um mundo melhor. Responsabilizam-se os jovens até por debelar as contradições do mundo que o tornaram insustentável. No entanto, paradoxalmente, retira-se-lhes o terreno para agir.
A dependência prolongada das famílias e do Estado, fruto de políticas que não promovem a autonomia e independência dos jovens, constitui um entrave significativo à sua capacidade de serem agentes de mudança. Os jovens são incentivados a sonhar com um mundo melhor, mas simultaneamente são-lhes cerceadas as oportunidades de tornar esses sonhos realidade. A contradição é evidente: por um lado, apela-se à sua energia revitalizante, à sua capacidade de inovação, idealização e de criatividade para enfrentar desafios globais prementes, como a crise climática e a sustentabilidade do planeta; por outro, alimenta-se um sistema que limita a sua participação ativa na sociedade.
Este cenário é particularmente frustrante quando estas gerações de jovens, se veem aprisionadas numa teia de expectativas contraditórias. Se de alguma forma os consideramos a chave para um futuro sustentável; ao mesmo tempo lançamos-lhes obstáculos que dificultam a sua independência e capacidade de contribuir efetivamente para esse futuro. As políticas e estratégias dos partidos políticos, focadas predominantemente nos eleitores mais velhos — não por uma genuína preocupação com o bem-estar desta faixa etária, mas sim pela sua representatividade numérica — exacerbam este dilema. Onde estão os jovens nos programas eleitorais? São forçados a procurar vidas viáveis fora do país. Que futuro para Portugal?
Penso que as gerações mais adultas e/ou ativas devem assumir a responsabilidade de criar condições que permitam aos jovens florescer e participar plenamente na sociedade. Não se trata apenas de passar o testemunho, mas de remover os obstáculos que limitam o seu enorme potencial e sobretudo de não lhes depositar o ónus da mudança requerida. Essa cabe-nos a nós todos juntos! A emigração dos jovens sublinha a falha dos nossos sistemas políticos e económicos em oferecer-lhes oportunidades de vida dignas e significativas.
Como mãe cuja filha optou por buscar no estrangeiro o que o seu país não pôde oferecer, faço um apelo aos responsáveis políticos para que olhem para além dos ciclos eleitorais. É essencial que se comprometam com uma visão de futuro que englobe todas as gerações, criando uma sociedade justa, equitativa e próspera, onde os jovens tenham verdadeiras razões para ficar e contribuir, e onde os mais velhos desfrutem da dignidade e do respeito que merecem. Somente assim se poderá contribuir para a construção de um país saudável e habitável para as gerações futuras.