Opinião: “Política zero covid da China – a bolha”
A política Zero Covid da China foi desenvolvida e implementada no início da pandemia, tendo como base as informações preliminares relativas ao vírus SARS-CoV-2 e à sua estripe inicial. Ao contrário do que muitos pensam esta não é uma política de zero casos, mas sim uma política baseada em medidas de zero tolerância.
Antes de mais é importante ressaltar que a República Popular da China é um país em desenvolvimento, com um índice populacional de 1,4 mil milhões de habitantes e com capacidade hospitalar significativamente inferior à grande maioria dos países desenvolvidos. Em modo de comparação, a China responde com 3,6 camas de unidades de cuidados intensivos para cada 100 mil habitantes, enquanto que os EUA apresentam 34,7 camas de unidades de cuidados intensivos para o equivalente número de habitantes. Contrariamente à maioria dos países, na China todos os casos positivos são hospitalizados ou isolados em centros destinados para o efeito, independentemente da existência ou da gravidade de sintomas.
Não obstante mais de 87% da população chinesa estar vacinada, as vacinas disponíveis na China continental são as de vírus inactivado e os estudos apontam para o seu inferior grau de imunidade face às vacinas inoculadas na Europa e EUA.
O plano de contenção de propagação da pandemia começou por ser implementado na tentativa de que a imunidade de grupo fosse alcançada. Desde o início de 2020 que a China mantém as fronteiras enceradas ao turismo. Deste modo, todos os residentes que entrem no território ficam sujeitos a quarentena de 14 a 21 dias (dependendo do país de proveniência) em hotel designado e controlado pelo governo, onde são submetidos a vários testes de antigénio, PCR e exames serológicos durante a sua estadia.
Quanto às rotas de voos para a China, estas estão sujeitas à suspensão por 2 semanas caso à chegada 5 a 9 passageiros testem positivo, e por 4 semanas caso transportem 10 ou mais passageiros positivos à chegada ao território.
Foi também desenvolvida e implementada a utilização de uma aplicação de dispositivo móvel pessoal que rastreia, não só o percurso diário de cada cidadão, bem como os seus possíveis sintomas e contactos directos. Desta forma, tem sido possível analisar e cruzar dados de maneira a que, não só as medidas e a necessidade de isolamento sejam mais eficientes, bem como proceder à possível necessidade de testagem em massa e, em último caso, dar uma resposta atempada de rigoroso confinamento de prédios, bairros, distritos ou mesmo cidades.
O governo central da China estima que com estas medidas tenha conseguido evitar mais de 1 milhão de mortes e mais de 50 milhões de hospitalizados.
O actual cenário da variante Ómicron na cidade de Xangai leva-nos a questionar a viabilidade e o sucesso da política de medidas de extremo controle aplicada na China, onde imperam os princípios autoritários da liderança do Partido Comunista Chinês. Não restam dúvidas de que a superioridade do modelo chinês tem tido certamente grande peso na equação do sucesso da implementação da política no território, e que a sua possível e hipotética interrupção e a eventual aceitação do seu fracasso levariam a questionamentos que poderiam prejudicar a legitimidade do regime.