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Opinião: Poeira cósmica na origem da vida?

14 de março às 09h11
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Provavelmente, já todos ouvimos dizer que somos feitos de poeira de estrelas. Somos feitos de um sem-número de moléculas feitas com inúmeras combinações de elementos químicos. Cerca de 90% dos elementos químicos das moléculas no nosso corpo foram fabricados nas estrelas. O resto vem do próprio Big Bang. Por exemplo, cerca de 60% do corpo humano é água, a famosa molécula com combina dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio (H2O). Quase todo o hidrogénio vem mesmo da formação inicial do Universo, há 13,8 mil milhões de anos. Porém, o oxigénio já foi formado no interior das estrelas. A primeira geração de estrelas era composta apenas por hidrogénio, hélio e uns pozinhos de lítio, berílio e boro. O mesmo hidrogénio com o qual se procura hoje produzir energia sem emissões de carbono; o mesmo hélio com o qual enchemos balões e, ao respirá-lo, voz de Pato Donald; o mesmo lítio com o qual fabricamos cada vez mais baterias; o mesmo berílio das brocas altamente resistentes; o mesmo boro dos fertilizantes agrícolas. As primeiras estrelas fabricaram no seu interior, por fusão nuclear, novos elementos químicos. Aquelas que explodiram em supernova, espalharam esses mesmos elementos químicos que, novamente misturados com grandes quantidades de hidrogénio e hélio, acabaram por dar origem à segunda e à terceira geração de estrelas que, essas sim, formaram grandes quantidades de carbono, oxigénio, magnésio, silício, ferro e outros elementos.
Os processos de formação de elementos químicos no Universo são relativamente bem conhecidos. Muito menos conhecido é o surgimento de vida através da combinação de moléculas complexas. Um dos mistérios relativos à vida na Terra é precisamente a superfície deste nosso planeta parecer ter tido poucos elementos químicos disponíveis para as reações químicas fundamentais para que a vida tivesse surgido. Mas um trabalho liderado por Craig Walton, investigador do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique e da Universidade de Cambridge, publicado em fevereiro na revista Nature Astronomy, traz novas pistas.
Todos os anos caem cerca de 40 mil toneladas de poeiras cósmicas no nosso planeta Terra. Pequenas partículas de poeira, de 1 a 3 milímetros de diâmetro, produzidas nas antigas colisões de asteróides e/ou libertadas de cometas, que após entrarem na atmosfera perdem as suas grandes velocidades deixando de representar perigo, caindo suavemente onde bem lhes aprouver. O estudo publicado conclui que no passado caíam de 400 mil a 40 milhões de toneladas de poeiras por ano. Poeiras essas mais ricas em carbono, nitrogénio (azoto), enxofre e fósforo do que a superfície da Terra. As que caíram em cima de glaciares devem ter criado pequenas poças, que acabam por acumular ainda mais poeiras, onde toda uma nova química necessária à vida tal como nós a conhecemos pôde florescer.
É certo que desconhecemos a quantidade de glaciares na Terra primordial, assim como mil e uma outras coisas que levaram ao surgimento de vida. Mas não deixa de curioso como o «Tu és pó, e ao pó voltarás», do Génesis, pode ser ainda mais literal do que pensávamos.

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