Opinião: Os desafios do SNS na próxima Legislatura
O SNS encontra-se num momento difícil que ameaça o seu futuro nos moldes em que o conhecemos.
A falta de médicos de família, as listas de espera hospitalares e não só ou a taxa de mortalidade não covid-19, são problemas para os quais não se vislumbra solução fácil quer por constrangimentos financeiros quer por razões ideológicas.
O relativo sucesso no combate à COVID-19 deve-se fundamentalmente ao esforço dos profissionais do SNS que se excederam muito para além do que lhes era exigível e esse esforço não tem sido devidamente reconhecido.
Arriscaram a sua segurança e a saúde dos seus familiares, para tratar os doentes COVID-19.
Realizaram imensas horas extraordinárias, deixando muitas vezes as suas famílias para trás, de modo a manter os serviços de saúde a funcionar.
Os profissionais de saúde são o pilar que sustenta o sistema de saúde Português, e o SNS em particular.
O SNS não tem garantido a proteção da saúde dos portugueses por falta de planeamento e estratégia na política de saúde.
Um milhão de portugueses não tem Médico de Família. Os Cuidados de saúde personalizados encontram-se fragilizados, com milhares de profissionais exaustos e doentes meses à espera para uma simples consulta no centro de saúde.
Os tempos de espera nos hospitais são intoleráveis.
Aparentemente os responsáveis políticos dos dois maiores partidos concordam quanto aos problemas do SNS, no entanto parece não haver sintonia quanto às soluções para os problemas.
O SNS precisa de um novo modelo de gestão, mais planeamento e mais organização, ou seja, de boa gestão dos recursos disponibilizados.
Há necessidade de reforçar o investimento dos serviços públicos, nomeadamente dotando os cuidados de saúde primários de meios complementares de diagnóstico.
Espera-se que na próxima Legislatura haja uma visão reformista capaz de recuperar o Serviço Nacional de Saúde, com rigor e sem facilitismos, dando ao País uma visão para o futuro da saúde, sem constrangimentos ideológicos. O doente tem de ficar à frente da ideologia.
Há que procurar soluções também na negociação com os setores privado e social, para que sejam prestados serviços mais baratos e melhores.
Todos os doentes que ultrapassaram o seu tempo de espera no SNS para uma consulta, exame ou cirurgia tem de obter uma resposta que permita serem atendidos sem custos nos hospitais particulares e sociais.
Há necessidade de uma resposta adequada a todos os doentes que estão em risco porque não têm os tratamentos adequados no quadro do SNS.
É uma liberdade de escolha que favorece sobretudo as famílias mais pobres porque as famílias com mais rendimentos têm seguro de saúde e optem optar por outras escolhas no subsistema social e particular.
Temos de evitar que o futuro divida os Portugueses entre aqueles que tem capacidade financeira para procurar melhores cuidados de saúde a tempo e horas e os outros que por não terem capacidade para se libertarem do SNS ineficiente veem o seu direito Constitucional à saúde colocado em causa.