Opinião: O preço da democracia global
Nas últimas semanas somam-se os alertas das consequências da guerra para a economia global, ao mesmo tempo que se adensa a incerteza sobre o possível fim do conflito e demais impactos potenciais a médio prazo. Sobre o que já se sabe, e se reflete no custo de vida, as autoridades públicas europeias e empresas são consensuais e perentórias no que está por vir: a) um notório arrefecimento da economia combinado com um aumento da inflação (histórica na zona euro); b) continuadas e acentuadas disrupções nas cadeias de comércio global c) elevadíssimos preços na energia e commodities. Este é o custo que já se conhece, resta aguardar o preço final a pagar pelo justo embargo e necessário isolamento internacional de contagiosas autocracias czaristas do séc XIX. No caso da Suíça, o impacto económico também se espera significativo, por um lado por força da exposição ao mercado de capitais russo, gás e matérias-primas, e por outro pela já óbvia valorização do franco como moeda de refúgio, o que também penalizará as exportações. Quanto ao mercado de capitais, recentemente a Associação Suíça de Banqueiros revelou que os cofres suíços detêm atualmente cerca de 1 PIB português – 200 mil milhões de francos suíços – em ativos russos. O departamento governamental responsável pelas sanções aplicadas à Rússia, revelou que a Suíça aplicou já sanções a 874 indivíduos e 62 entidades empresariais com ligações ao Kremlin e companhia. No que toca às commodities, e apesar de poder não parecer óbvio, o papel da Suíça no mercado global é muitíssimo central com uma participação em mais de 50% do comércio mundial de café, óleos vegetais como o óleo de palma, bem como 35% do volume global de cacau, de acordo com dados governamentais. Ainda que a maioria destas mercadorias nunca chegue a transitar pela Suíça, os lucros do seu comércio acabam não raramente aqui. A guerra é assim, também para a Suíça, um jogo de soma zero cujo resultado final ainda está por determinar. Como o Presidente da Confederação Helvética referiu em recente artigo de opinião “temos de defender a liberdade e a democracia com coragem. Isto tem um preço. Um preço que a Suíça está pronta a pagar”.