Opinião: O passar do tempo
Cada vez que celebramos o aniversário de alguém, o nosso planeta Terra encontra-se no mesmo ponto da sua órbita em que estava no dia em que esse alguém nasceu. É uma observação simples, mas bonita. Em cada aniversário fecha-se um ciclo no universo e a Terra volta a estar no mesmo lugar. É como quando uma criança num carrossel volta a passar em frente aos pais, que sorriem e tiram mais umas fotografias.
Mas vamos ser futuristas e imaginar o dia em que teremos pessoas a viver em Marte. Imaginemos uma Marta do futuro que nasce em Marte no mesmo dia em que uma Teresa do futuro nasce na Terra. Marte demora 687 dias a dar a volta ao Sol, contra os 365 da Terra. No dia em que a Marta celebrar 18 anos de idade, isto é quando Marte tiver completado 18 órbitas, ter-se-hão passado 18 x 687 dias = 12366 dias. Entretanto, na Terra, ao fim desses 12366 dias a Teresa já terá 34 anos. Ou seja, passado o mesmo tempo a Marta e a Teresa terão idades diferents, só porque nasceram em planetas diferentes.
Mas a coisa ainda se pode complicar mais. Imaginem que a Marta quis celebrar o seu 18º aniversário passando duas semanas de férias em Neptuno. Vamos assumir que a viagem foi por teleportação e que, após chegada, a Marta por lá passou a quinzena. A seguir teleportou-se para Portugal (na Terra) para visitar a amiga Teresa. Ao chegar ficou a saber que a Teresa já tinha 39 anos! É que Neptuno demora 164 anos terrestres a dar a volta ao Sol, e portanto as duas semanas neptunianas são 164 x 14 dias = 2296 dias da Terra, o que corresponde a mais de 6 anos. Não admira que as férias tenham sido tão relaxantes. Aborrecidas, mesmo.
“O relógio anda mais depressa em Marte do que na Terra, porque a gravidade em Marte é menor do que na Terra. A diferença é ínfima, da ordem de um bilionésimo de segundo em cada segundo, mas nota-se e tem que ser corrigida nos computadores das missões espaciais. O universo é estranho, mas só aos nossos olhos”
Estas divagações ilustram duas coisas. A primeira é a regra a que obedecem os planetas, que quanto mais longe do Sol, mais tempo demoram a completar a órbita. Além dos referidos, um ano em Mercúrio dura 88 dias terrestres, em Vénus 225 dias, em Júpiter 4336 dias, em Saturno 10757 dias, e em Úrano 30681 dias.
A segunda é que medir o tempo não é uma coisa óbvia. Hoje em dia basta olhar para o telemóvel para saber data e hora, mas no passado medíamos o tempo recorrendo a fenómenos naturais que se repetem. Por exemplo, lua cheia a lua cheia ( 29,5 dias), nascer do Sol a nascer do Sol ( 24 horas), ou o tempo entre dois batimentos cardíacos (±1 segundo). Galileu usava precisamente o seu coração para cronometrar as suas experiências. Claramente era um senhor calmo que não sofria de arritmias.
A Teoria da Relatividade veio trazer ainda mais mistério e beleza à questão do tempo. Alguns de vós terá pensado que se a Marta e a Teresa tivessem relógios iguais, sincronizados, estes marcariam o mesmo tempo na Terra ou em Neptuno. Mas Einstein mostrou-nos que tal não é verdade porque o passar do tempo depende do campo gravítico. O relógio anda mais depressa em Marte do que na Terra, porque a gravidade em Marte é menor do que na Terra. A diferença é ínfima, da ordem de um bilionésimo de segundo em cada segundo, mas nota-se e tem que ser corrigida nos computadores das missões espaciais. O universo é estranho, mas só aos nossos olhos.