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Opinião: O Pandemónio Covid

14 de julho às 12 h30
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Está instalada a grande confusão. Esta nova vaga (não sei se terceira se quarta) da pandemia veio originar muita inquietação e suspeita em muitos portugueses. E se eu, apesar de tudo, ainda com algum conhecimento da área, e tendo lidado com muitos vírus na minha vida profissional, me sinto assim, imagine-se os outros.
Ninguém se entende, tão depressa se encerram como se abrem as fronteiras, para fora, para dentro e cá dentro, neste caso só ao fim de semana porque durante a semana o vírus está de férias. Umas festas fazem-se e outras são proibidas. Não as políticas, porque essas são todas permitidas! Os jogos de futebol com os estrangeiros podem ter público e os nossos não.* Mas pode encher-se um estádio com um famoso cantor. Eu estive lá e gostei, mas confesso que não me senti muito à vontade com as medidas sanitárias tomadas. Para chegar ao meu lugar tive de saltar por cima de várias pessoas que tinham chegado primeiro.
É também por isso que muitos se estão nas tintas e participam, em festas de centenas, diárias sem distanciamento social, sem máscaras, todos agarradinhos uns aos outros. Sou novo, o bicho não me toca; e se tocar é ele que morre! Tudo isto se faz ante a complacência das autoridades que ou fecham os olhos, ou vão lá, registam uns quantos nomes e mandam todos para casa. No fim, ainda se louvam os meninos que foram muito obedientes e lá foram todos embora, sem mais.
E agora são as vacinas. A vacina é, torna-se cada vez mais evidente, a grande arma, quiçá a única, que temos para vencer esta guerra que estamos a travar com um vírus que ainda ninguém sabe onde e como nasceu e que se vai transformando quase dia a dia, como num jogo de gato e rato. E nesta história de vacinas dá para tudo. Há umas que só podem ser administradas nos velhos porque houve uns quantos, muitos poucos, novos a quem a vacina causou coágulos mortais, outras são menos eficazes nos velhos e mais nos novos. E continuamos sem saber, se e quando, os jovens, alguns dos que participam nas tais festas, devem ser vacinados.
Mas enfim, é necessário vacinar toda a gente, rápido e em força. E aí é que a porca torce o rabo! Formam-se filas extensas, de horas à espera, que, frequentemente, originam reações contra os profissionais cuja única culpa é saberem dar injeções no braço do cidadão. Multiplicam-se os apelos à calma, mas isso é uma coisa que muitos portugueses não sabem o que é. Ao contrário, dezenas de milhar faltam às vacinas que, nalguns casos, foram os próprios a agendar. O bom tempo e a praia ali ao lado…
Agora, subitamente, para se dormir uma noite no hotel, qualquer hotel, em qualquer sítio do País, onde as pessoas geralmente entram e saem sozinhas, é necessário apresentar o passaporte Covid, mas em qualquer restaurante, só no fim de semana tal é exigido, e só para comer lá dentro… mais uma vez, porque o vírus só faz turismo ao fim de semana.
Depois vem a questão do isolamento por ‘contatos de risco’, independentemente de se estar vacinado ou não. Então em que ficamos? Se se está vacinado e se tem o passaporte pode ir-se a qualquer lado, mas não se lá estiver alguém infetado. Sabe-se lá quem! Houve uma ‘app’ (covid safe) que parecia ser a solução. Muitos a instalaram nos seus ‘smartfones’, mas poucos reportavam a sua positividade e, dos que o fizeram, ninguém quis saber. Aliás, um dos problemas da vigilância epidemiológica é que as pessoas ocultam os seus contatos e muitos mentem deliberadamente em relação aos que tiveram com pessoas infetadas. E muitos infetados desobedecem descaradamente às ordens de confinamento e saem para a rua misturando-se com a multidão (geralmente não para trabalhar).
Finalmente, todo o mundo (até eu, aqui) se sente capacitado para dar uma opinião. Subitamente, nós temos centenas, milhares de especialistas das mais variadas origens. E os políticos dizem que temos de os ouvir; mas eles, os políticos, geralmente não percebem nada disto e, assegurando-nos que estão a defender a nossa saúde, estão mais preocupados com a perceção que se tenha deles. Daí as medidas errantes que vão engendrando para logo a seguir desfazer.
Penso que deveriam todos ir dar uma volta e deixar o Vice-almirante no comando de tudo, vacinas e o resto!

* No dia em que escrevi este texto foi anunciado que, por acordo com o governo, a nova época de futebol já teria público nos estádios. Umas horas depois, fonte oficial do Governo disse que “decisão sobre regresso do público aos estádios ainda não está tomada”. Esteve, mas alguém o fez voltar atrás.

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