Opinião: O nosso coração está no centro
A cultura é a essência da identidade, seja ela concebida numa perspetiva de realização e deleite pessoais, seja na construção de uma comunidade que se revê num espaço e num tempo determinados. Por isso há paisagens, lugares e gente que são como a nossa casa comum, que reconhecemos numa imagem concreta, num som específico, numa expressão peculiar, numa rua, num monumento ou numa ruína qualquer. Somos todos de algum lado e é esse sentimento de pertença que nos agrega a outros como nós, mesmo que aparentemente diferentes.
Ser, por isso, da Região Centro, é assumirmos um mosaico policromado que tem o seu eixo vital no curso do Mondego, desde a dura penedia da montanha à largueza suave do estuário, é percebermos esta constelação de cidades polarizadoras de sub-regiões que se complementam, é conhecer uma história tensa de séculos entre o poder senhorial fragmentado do norte e a afirmação da centralização real do sul, é sentir os sabores da gastronomia ancestral, é lembrar o difícil povoamento, é ainda não esquecer que aqui se abriu a primeira e privilegiada ligação terrestre à Europa.
A Região Centro fundou-se na reconquista medieval, na semeadura de pinhais sobre a areia ou nas encostas, na criação da universidade farol de conhecimento, no granito e no calcário de que se ergueram castelos e mosteiros, na ousadia dos que desbravaram mares novos ou dos que emigraram para o mundo. É isso e mais ainda o que nos une, na diversidade fecunda de um território feito de terra e gente, por vezes ainda desigual na coesão, mas que a geografia, a história, a demografia, a arte e as tradições vão tecendo a urdidura de uma entidade comum.
Se assim for, o diagnóstico das potencialidades e debilidades está quase feito, os recursos identificados e as oportunidades expostas. O desafio é juntar valências e perceber que o todo é sempre maior do que a soma das partes, respeitando o que cada um pode dar de melhor. Interior ou litoral não pode ser uma condição, mas somente uma localização. Indústria e turismo deverão ser como dedos da mesma mão.
Arte e tecnologia são ambas fatores de desenvolvimento. Modernidade e património (seja material ou imaterial) podem coexistir na aceitação da funcionalidade e no respeito pela memória. E de tudo sobra, como um traço transversal, a cultura, diversificada e criativa, que nos dá a consciência deste território de que somos hóspedes. É isso, sobretudo isso, que legaremos aos que hão de vir depois de nós.