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Opinião: O caso Depardieu

06 de janeiro às 12h53
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Gérard Depardieu é, foi, um monstro sagrado da cultura do Hexágono. Elevado ao Olimpo da representação por Truffaut e Bertolucci, adquiriu um estatuto icónico à prova de bala.

Que lhe permitiu, há alguns anos, escapar sem mossa a acusações de fraude fiscal. Que lhe permite, agora, em passe de mágica, afivelar a máscara de desamparada vítima de múltiplas denúncias de abuso sexual.

O caso Depardieu é um caso clássico de inversão de papéis. Vitimiza-se o abusador e transmuta-se a real vítima em ogre acusatório.

Nada a que não tenhamos assistido neste jardim à beira mar plantado, há 20 anos, aquando das construídas narrativas do processo Casa Pia.

Então, como agora, foram os abusados quem subiu os degraus dos pelourinhos das opiniões públicas e publicadas.
A gaulesa ética republicana, como a lusa, tem antecedentes conhecidos. E meticulosamente escondidos. Como o do filósofo 68 Louis Althusser, conceptualizador dos Aparelhos Ideológicos do Estado e autor da alquímica e defunta fusão entre marxismo e estruturalismo, assassino confesso, e impune, da mulher, Hélène Rytmann, como relata, em tom ligeiro, despreocupado e complacente, nas memórias póstumas L’ avenir dure longtemps.

Não é suposto os filósofos, e demais fauna intelectual, cultivarem a arte do homicídio, e, muito menos, a do assassinato conjugal. Esse é terreno privativo dos trolhas, dos brutos, dos incultos, dos machos latinos.

O romancista Michel Tournier, nestas edificantes histórias, também não deixa os seus créditos por mãos alheias. Basta dar uma breve passagem de olhos por algumas das entrevistas que concedeu nos anos 90 para aí encontrarmos gloriosa apologia da pederastia – nome com que os intelectuais das rives gauches, em invocação explícita de antigos amores gregos, gostam de batizar a pedofilia.

E, saindo do universo francófono, o celebrado autor de The Sheltering Sky, Paul Bowles, na sua nada austera vida em Tânger, quando a porta de sua casa era aberta a igualmente ilustres visitantes, como Capote e Vidal, sempre por rapazinhos diferentes.
Ou os génios Picasso e Chaplin, contumazes amadores de ninfetas e lolitas.

Ou os revolucionários Che, Fidel e Mao, para quem as companheiras de luta valiam, sobretudo, como companhias de cama.
Nada de espantar, afinal, como as militantes do #metoo não deveriam ignorar.

É que, realmente, como Orwell em tempo devido fez notar, se todos os animais são iguais, uns há que são mais iguais que os demais.

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