Opinião: Neutralidade helvética

Um encontro construtivo, positivo e sem ameaças foi o resultado oficial da primeira reunião entre Biden e Putin. A cimeira de Genebra marca o regresso da diplomacia ao teatro histórico das relações EUA-Rússia. O tom pragmático que balizou o encontro combinou com a neutralidade cénica da Suíça mas não adiantou muito além da normalização das relações diplomáticas entre as duas potências, o que per si não é negativo mas preocupantemente insuficiente face aos desafios globais em agenda. Não é negativo e pelo contrário deve ser valorizado como importante fator de estabilidade relevante num ano de recuperação económica pós-pandemia onde é esperado, segundo o índice S&P 500, um capex histórico do setor privado aliado a uma liquidez sem precedentes por força das políticas fiscais expansionistas. Por outro lado, a estabilização das relações bilaterais EUA-Rússia e algum (re)alinhamento no controle de armamento não responde nem refria os “comportamentos do século XIX no séc. XXI” como descreveu John Kerry a anexação da Crimeia pela Rússia. Em matéria de direitos humanos fundamentais e princípios básicos do Direito Internacional, o não-diálogo sobre a Ucrânia e Alexei Navalny deixaram claro que os “comportamentos do séc XIX” estão para durar nalgumas latitudes. Os tímidos sinais sobre a governança do ciberespaço, a Síria e o ártico não sinalizaram nenhum avanço significativo em dossiers de gritante urgência internacional. No entanto e no quadro geral, a expectativa deve manter-se no sinal verde para este (re)começo pós-Trump que por si só já reflete o regresso de alguma normalidade institucional à balança de poderes globais.