Opinião: Inteligência composicional : “in dubio pro homine”
Durante o ano que ora findou lançamos as bases para um diálogo permanente com o(s) futuro(s) possíveis. Num mundo crescentemente volátil, incerto, complexo e ambíguo, qualquer exercício de natureza ensaística serve também para extrair e perceber o devir tantas vezes “escondido” em pequenas ações, e através de eventos de curta duração mas de impactos sociais e organizacionais cada vez mais relevantes.
Começamos o ano de 2023, a refletir sobre a verdade “alucinada” da inteligência artificial mas com atenção dirigida para um consequencialismo responsável, onde ao engenho humano cumpre estabelecer princípios de precaução para que o interacionismo simbólico entre o homem e o algoritmo produza resultados alinhados com os interesses da humanidade, “in dubio pro homine”.
Os avanços na área dos materiais e tecnologias emergentes permitem-nos observar e “ler” o infinitamente pequeno (nível sub-atómico) através de instrumentos cada vez mais poderosos, estimulando com isso o desenvolvimento de novos setores de atividade e competências para o trabalho e a vida em ecossistemas e fileiras industrias de processamento, sensorização e comunicação quântica.
Com a evolução dos modelos de produção de inteligências instantâneas e voláteis, emergem ideias e conceitos para tentar trazer clareza para o mundo paralelo em construção, pejado de algoritmos autónomos e que desafiam a imaginação de forma automática e continuada.
A necessidade de organização de um mundo de dados e mensagens a crescer em volume, velocidade e variedade produz a necessidade de novas formas de identificação e valorização de ativos, tanto físicos quanto digitais e mesmo híbridos (phygital) e que revelam o aparecimento de “Consciências Algoritmicas” a operar em ambientes de inteligência aumentada, expandida e imersiva.
Pelo meio, tempo ainda para uma reflexão sobre as novas industrias de percepção/cognição/emoção (o deep tech e as Industrias 5.0 ), a longevidade digital e a “imortalidade algoritmica”, sem esquecer as Moedas Digitais em preparação para um sociedade e um mundo que, em parte, começa a correr “On Chain” sobre as redes Blockchain.
Terminamos a sequência a refletir sobre desejos de construção de Máquinas Virtuais Morais e Éticas, não por um qualquer crédito cego na ideia de “maquinismo”, mas como uma tentativa de agregar possibilidades civilizacionais com suporte em uma axiologia de valores inalienáveis, independentemente dos extraordinários avanços nos modos humanos e maquínicos para melhor compreender percepção, cognição e expressão de sentimentos em sociedades híbridas de algoritmia intensiva.
Em jeito de desafios para o futuro, importa promover ideias, conceitos e exemplos capazes de ajudar à emergência de uma atmosfera inspiracional e de inteligência composicional que agrega e promove um “zeitgeist” digital e se projeta na diversidade, equidade e inclusão através de um “jus-computacionalismo” orientado para as fronteiras do bem estar e da saude mental nos espaços de trabalho e em ambientes sociais, educacionais e industriais onde operam :
( 1 ) A criatividade e expressividade como capital simbólico de uma sociedade do risco e da oportunidade ;
( 2 ) A projeção de uma cultura da informação e de educação para o conhecimento mais profundo.