Opinião – Inteligência Artificial: Next Generation

A superação da crise socioeconómica originada pela crise sanitária (Covid-19 ), é o objeto do plano de recuperação designado Next Generation (NG), que foi concebido pela União Europeia para superar a crise. O investimento total previsto é de 723,8 milhões de euros subdivididos em subsídios e empréstimos, e destina-se a recuperar a Europa através da digitalização, da sustentabilidade e da resiliência.
O primeiro instrumento – digitalização – é um dos eixos do desenvolvimento dos planos de recuperação no quadro da NG. Visa impulsionar a competitividade e a soberania digital, e assume um grande peso nos planos de recuperação, transformação e resiliência apresentados pelos países da União Europeia. Ainda, segundo o mecanismo de recuperação e resiliência, as reformas e os investimentos em processos digitais devem promover, especificamente, a digitalização dos serviços, o desenvolvimento de infraestruturas digitais e de dados, os clusters e os centros de inovação digital e soluções digitais abertas. Adicionalmente, a transição digital deve incentivar a digitalização das PME’s, e respeitar os princípios de interoperabilidade, eficiência energética e proteção dos dados pessoais.
Para avaliar os números das ações da transformação digital na Europa, procedeu-se à elaboração do quadro I e figura I, a seguir exibidos:
Quadro I – Transição digital por países e em %
Figura I – Visualização gráfica das posições relativas dos países
Portugal é o país da União Europeia que afeta à transição digital menos fundos, relativamente ao valor total atribuído ( 17,3%).
Quadro 2 – Programas, ações e reformas por país
A digitalização das empresas, do setor público e dos serviços de saúde são os programas mais frequentemente repetidos e desejados pelos países europeus e os mais incentivados. A Itália, além dos subsídios, incentiva a adoção de tecnologias digitais pelas empresas concedendo um crédito fiscal especificamente desenhado para apoiar e acelerar a transição digital. A Espanha, por sua vez, obriga as empresas B2B (negócios entre empresas) e B2C (negócios entre empresas e consumidores) a implementar a faturação eletrónica como medida preventiva para reduzir a fraude fiscal. Encoraja também as empresas a adotarem sistemas ciber-físicos.
A França centra os investimentos da transição digital na digitalização das empresas, escolas e administração pública. A Alemanha afeta 52% da sua dotação total à transição digital, estimulando a digitalização dos serviços públicos, tanto a nível federal, como regional.
A Grécia dedica 23,3% da sua dotação total à transição digital, destacando-se o investimento para a transformação digital do setor público, que inclui a utilização de técnicas avançadas como a computação na nuvem e BigData. Especialmente para as PME destina 375 Milhões de Euros.
Portugal afeta do montante total recebido 17,3% à transição digital, centrando a maioria esmagadora no setor público, visando a sua modernização. Incentiva igualmente a transição digital das pequenas e médias empresas e a capacitação digital dos trabalhadores, mas com valores ridiculamente insignificantes.
A Áustria é o país da Europa que afeta à transição digital a maior fatia ( 53%) da dotação total, concentrando tudo no setor público.
A Croácia, a Letónia, a República Checa e a Suécia afetam todos os recursos ao setor público.
Em suma, a dotação destinada a impulsionar a digitalização é a mais baixa de todos os países da União Europeia. Daí que as empresas portuguesas, relativamente às suas congéneres europeias, sejam menos apoiadas financeiramente. Os países mais desenvolvidos (Alemanha, Áustria, etc) são os que apresentam maiores índices de afetação da totalidade dos fundos à transição digital ( 52,53%). A estrutura de repartição da dotação privilegia o setor público relativamente ao privado, e Portugal segue a tendência. A execução dos programas será, no entanto, bastante mais decisiva do que a previsão. A transformação digital é o eixo transversal e, se bem executada, pode desempenhar o papel de alavanca para o sucesso digital. Acresce que, a digitalização é indispensável à obtenção de BigData (dados) e estes são a matéria-prima da inteligência artificial.
Bela análise ás intenções dos planos NG apresentados pelos estados membros. Outra coisa não seria de esperar do Prof. Marques de Almeida (de quem fui apenas colega de empresa antes da minha ida para Bruxelas). O par de anos que passei nas instituições europeias, ensinaram-me a não acreditar sómente nas intenções, mas sobretudo nas realizações. Como é diferente o alcance destas duas palavras. Como diz a canção de uiz Goes: é preciso acreditar. Veremos por volta de 2030.