Opinião: Foco nas pessoas sozinhas
Foi ironicamente no dia dos namorados que recebi um artigo onde se abordam as dificuldades que enfrentam as pessoas que vivem sozinhas. Recentemente, uma deputada de Bruxelas tem trazido o tema para a agenda política. Carla Dejonghe estima que o mundo político deve prestar mais atenção às necessidades deste grupo da população.
Na Bélgica há cada vez mais pessoas a viver sozinhas: pelo menos um em cada três lares é composto por apenas um indivíduo – no total 1,8 milhões de pessoas vivem sós, seja por escolha ou por necessidade. No mês passado, uma das “freguesias” de Bruxelas (Woluwe-Saint-Pierre) aprovou por unanimidade a adopção de uma carta de intenções, que assume o compromisso de considerar os “solitários” nas suas decisões, avaliando o impacto das suas políticas neste grupo.
Apesar de ainda longe do “Ministro da Solidão” do Japão, a deputada sugere algumas propostas para melhorar a qualidade de vida, relacionadas com actividades acessíveis para pessoas que não estão em casal, alterações na fiscalidade, mudanças na restauração, entre outras.
Porque nem sempre viver sozinho é uma escolha (ou se equipara a um episódio de “O Sexo e a Cidade”), convém recordar que o grupo dos agregados unipessoais inclui indivíduos divorciados, viúvos, membros do clero, trabalhadores migrantes, etc. A verdade é que a sociedade não está pensada para pessoas sozinhas. A mudança de paradigma, considerando também as medidas para combater o envelhecimento geral da população, terá de ser bem pensada.
Destaco duas das coisas que mais me incomodam: a primeira diz respeito à hotelaria, que muitas vezes coloca ao mesmo preço um quarto, seja para 1 ou 2 pessoas. E segundo, o clássico: aquela prática comum do empregador contar com o trabalhador para algumas horas extra, “uma vez que não tem compromissos familiares”. Como se o conceito de “ter uma vida” passasse obrigatoriamente por casar e ter filhos…