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Opinião: Cultive-se a literacia política…

12 de janeiro às 13h23
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Demitiu-se ontem (dia 8 de Janeiro) a Primeira-Ministra francesa … e comprovei o que venho pensando, há já muito tempo, dos políticos portugueses quando estes vão envergonhando o nosso País com discussões estéreis sobre os casos e casinhos, sobre factos e comportamentos pessoais, sobre o que eu fiz e tu não fizeste, sobre o que tu fizeste e não podias fazer, etc., etc.
A Primeira-Ministra francesa demite-se … a notícia sai e tudo decorre com a maior naturalidade possível, não se entra na discussão sobre o que o Presidente Macron pensa ou deixa de pensar, sobre argumentos pessoais que a Primeira-Ministra francesa alega ou possa alegar. A notícia é dada numa linguagem simples, vislumbrando-se tendências positivas ou negativas, mas sempre conservando um nível político civilizado e próprio. Simplesmente se noticia que Elisabeth Borne se sentiria um pouco desgastada após a crise esboçada no executivo em consequência dos movimentos populares que se geraram com a aprovação da lei de imigração e da lei sobre idade de reforma e que, ao mesmo tempo, se terá apercebido que haveria da parte do Presidente Macron uma certa vontade de apresentar um novo Primeiro-Ministro. A imprensa apenas especula sobre os mais prováveis sucessores, sobre as suas diversidades, mas refere sempre o bom relacionamento institucional entre Macron e Elisabeth Borne.
Chama-se a isto maturidade política, avanço cultural, literacia política… de um Povo … de um Jornalismo!…
Em Portugal, e sobretudo durante estes últimos tempos, vamo-nos posicionando numa situação mais futebolística do que politica, sempre mais próxima de um país terceiro-mundista do que europeu, tal é a linguagem de muitos dos “políticos” da nossa praça e de alguns “comentadores” que começaram a enxamear os meios de comunicação social.
Olhe-se para tudo o que aconteceu após os casos “Operação Influencer”/”Start Campus”…e a sequente (ou consequente) demissão do Primeiro Ministro e da convocação de Eleições!…
Em vez de se analisarem as situações, com ponderação, calma, educação, respeito pelos intervenientes e pela verdade dos factos, extremaram-se as narrativas. Os comentadores foram muitos (de mais), para todos os gostos (opiniões pessoais e não fundamentadas), como nos jogos de futebol em que a culpa é sempre do árbitro!… Nem o Presidente da República nem o Primeiro-Ministro demissionário assumiram uma postura política de um País que deve ser e se deve respeitar!…
É urgente mudar o estado deplorável que estamos a oferecer ao povo português (e não só…) no tipo de discussões e da linguagem que está a ser empregue. Não se trata já de uma linguagem metafórica de adversários que trocam entre si comentários tentando cada um “vender o seu produto” político. Nada disso. Trata-se já de seres humanos que espumam ódio, chegando por vezes ao insulto fácil e descarado. Constroem-se mentiras, distorcem-se factos, não se assumem erros (que só se vêem nos outros), numa luta do poder pelo poder a todo o custo … numa postura como já não me recordava de ver!…
A demissão do Primeiro-Ministro, a reorganização de partidos, a formação de alianças políticas, a promessa de formação de outras ou a contestação da sua hipótese de formação, transformou este País num lugar onde já não apetece sequer ouvir as notícias, tal é o desaforo de tantos enviesamentos, de tanta falta de verdade, falta de literacia política, diria mesmo falta de educação e falta de respeito pelos ouvintes!…
No passado fim de semana realizou-se o Congresso do PS e a formalização da AD!…
Pois, de imediato, alguns “políticos” e alguns “comentadores” criticam que os dois acontecimentos políticos se realizassem no mesmo dia! E que tal visava isto e aquilo … que foi ou não foi conseguido!… Será isto o que interessa num País com literacia política?
Depois, à entrada, as figuras principais, e que iriam tomar a palavra naqueles eventos, eram massacradas com pedidos de “pseudo-entrevistas”, quais “paparazzi”, e aquelas personalidades não eram capazes de lhes dizerem “Esperem. O que tenho a dizer vou dizê-lo lá dentro, daqui a dois minutos”. À saída, voltava a “caça” … com perguntas a que apenas se poderia responder o que já se dissera lá dentro!… Será este o jornalismo de que precisamos?!… A mim já me cansou!…
Muitos dos “comentadores” (e agora temos um incontável número) desprestigiam os verdadeiros comentadores…. Alguns “comentadores” apresentam-se como “a voz do dono” (que representam ou que ali os colocou), quando seria mais honesto que ali desde logo se apresentassem com a indicação do seu “conflito de interesses”. Para citar um exemplo, veja-se o caso de uma “comentadora” da CNN que raramente comenta os debates propriamente ditos (prós e contras deste ou daquele), mas que, por regra, torce sempre para o mesmo lado, chegando a ir, ela própria, buscar elementos para criticar negativamente “esse lado”!… Julgo que os directores de programas deveriam estar mais atentos e que uma declaração inicial de “conflito de interesses” (válidos e que não se discutem) fosse visível (tal como acontece com muitos dos outros comentadores cuja tendência ou filiação partidária é pública).

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