Opinião: Crise climática e seca em Portugal – o que fazer?
Quem se lembra de um mês de Janeiro assim, sem chuva?
E o Dezembro anterior foi o quarto mais quente dos últimos 90 anos, tendo sido batido o recorde de temperatura máxima da estação, com 26,4 °C na Zambujeira, segundo dados divulgados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Repito: mais de 26 graus celsius em Dezembro e um Janeiro sem chuva.
Segundo o IPMA, no final do mês de Janeiro, todo o território de Portugal continental estava em situação de seca meteorológica, com quase metade ( 45,7%) em seca severa ou extrema!
Hoje em dia, ninguém pode negar a crise climática.
Por que razão é que isto está a acontecer?
A nossa atmosfera contém gases que retêm a radiação solar e causam aquecimento – é o fenómeno chamado efeito de estufa.
A concentração destes gases na atmosfera tem aumentado drasticamente devido às atividades humanas, desde a revolução industrial e especialmente nos últimos setenta anos.
Quando queimamos combustíveis fósseis, para gerar eletricidade ou nos transportes, estamos a emitir gases de efeito de estufa (GEE).
Ao provocarmos a emissão de mais GEE, a atmosfera terrestre retém mais radiação e, consequentemente, o planeta aquece mais.
Este aquecimento provoca alterações climáticas e a ocorrência de fenómenos climáticos extremos.
Atualmente, já ninguém pode negar nem a crise climática, nem que a ação humana é que a está a provocar.
As consequências são agora bem visíveis – quem não se lembra do furacão Leslie e dos trágicos incêndios de 2017?
A seca que estamos agora a experienciar é mais uma das consequências da crise climática.
Os cientistas andam a alertar-nos para isto há décadas.
Mas não é preciso ser um cientista galardoado com um prémio Nobel, para perceber que a poluição, o lixo, e as emissões de gases com efeito de estufa, colocam grandes riscos para a nossa saúde e para a nossa qualidade de vida.
Este é um problema à escala planetária.
Mas note-se que as alterações climáticas não são um problema para o planeta; são sim um problema para a Humanidade.
O planeta Terra, quer se torne extremamente quente ou entre numa era glaciar, continuará a existir.
Nós, humanos, é que deixaremos de ter as condições que permitem a nossa sobrevivência neste habitat, que é o único que temos.
Pela sua dimensão global, a crise climática pode parecer um problema quase irresolúvel.
Neste momento, poderá estar a interrogar-se: como é que a minha simples ação pode estar a provocar esta situação e o que poderei fazer para ajudar a resolver um problema de tamanha dimensão?
A resposta é sim, as nossas ações têm impacto e as alterações que fizermos podem ajudar a resolver o problema.
Como cidadãos e consumidores, tomamos diariamente dezenas de decisões sobre os produtos que compramos e a forma como nos deslocamos.
A grande questão que se coloca ao tentarmos adotar comportamentos mais sustentáveis é perceber quais das nossas ações e decisões podem ter, de facto, uma influência positiva e significativa.
O que pode cada um de nós fazer para responder à crise climática?
Antes de mais, é preciso termos bem presente que o fundamental é baixar as emissões de gases de efeito de estufa, pois este é o principal fator de pressão sobre o clima e que nos levou ao problema que agora experienciamos.
De seguida, podemos (e devemos!) tomar ações como:
1. Falar sobre o assunto! Geralmente, falar do tempo e do clima é considerado uma conversa banal, de circunstância. Pois agora deverá passar a ser um tema principal de conversa e de debates, bem fundamentados, com base em informação correta e evidências científicas.
2. Tornar a nossa habitação mais eficiente do ponto de vista energético.
Isto pode ser feito através da moderação do consumo e de simples ações como substituir lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED ou adquirir equipamentos como televisões e máquinas de lavar de classe energética mais eficiente (se puder pagar um pouco mais no ato da compra, no longo prazo acabará por poupar dinheiro!).
As ações com maior impacto serão aquelas relacionadas com a melhoria do isolamento térmico e dos vãos envidraçados.
Naturalmente, são ações mais dispendiosas, mas contribuem também para um melhor conforto dentro das habitações.
Para além disso, já existem apoios ao financiamento destas ações e é expectável que venham a existir cada vez mais.
3. Privilegiar uma mobilidade mais sustentável.
O setor dos transportes representa cerca de um quinto do total de emissões de gases com efeito de estufa em toda a Europa e é a principal causa da poluição atmosférica nas cidades; e destas emissões, 70% deve-se ao transporte rodoviário.
A transição energética nos transportes é talvez o fator mais crítico para a redução de emissões de GEE pois é dos mais poluentes e mais difíceis de mudar, dado que depende quase exclusivamente de uma só fonte – o petróleo.
No caso de estar a ponderar a aquisição/troca de automóvel, por que não optar por um híbrido ou um elétrico?
No caso de não ter esta decisão no horizonte, por que não começar a pensar num plano alternativo para a sua mobilidade?
Será possível passar a efetuar algumas deslocações curtas, a pé ou de bicicleta (agora que se vão construindo cada vez mais ciclovias)?
E conhece os percursos dos transportes públicos que passam perto da sua casa e local de trabalho?
Será então possível abdicar do automóvel nas suas deslocações em pelo menos um dos cinco dias da semana de trabalho?
Se o conseguir, irá reduzir as suas emissões imediatamente em 20%, um valor bastante considerável. Sim, basta um dia por semana. Qual o dia que mais lhe convém?