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Opinião: Cinco desafios culturais de Coimbra

01 de julho às 14h39
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Coimbra pode vir a ser a Capital Europeia da Cultura 2027. Contrariando a ideia comum, a avaliação externa e independente dos peritos internacionais da Comissão Europeia não se centrará sobre os méritos da história ou do património da cidade – Coimbra detém, neste âmbito, um lugar indiscutível no panorama mundial, em paralelo com diversas cidades europeias. A chave essencial deste título europeu reside antes na transformação cultural que a cidade se propõe executar – hoje!
A avaliação externa será necessariamente exigente não só pela competição de outras cidades portuguesas como pela absoluta necessidade de integrar domínios que nem sempre se têm congregado – ou sequer colaborado – no modo como Coimbra vive, trabalha e projecta, numa concertação estratégica superior aos ciclos eleitorais ou interesses particulares.
Na avaliação de mais de 2 anos de auscultação pública e trabalhos preparatórios, são identificáveis 5 desafios maiores para a transformação cultural de Coimbra:
1. A aposta no conhecimento
Coimbra deve assumir e perseguir a capitalidade do conhecimento nas suas múltiplas formas, âmbitos e evoluções, nomeadamente em todas as áreas das ciências física, humanística ou social bem como nas tecnologias digitais e de inteligência artificial. Uma cidade do conhecimento como hub internacional de investigação e experimentação, de partilha científica, de acolhimento do novo e de pensamento crítico numa plataforma giratória de pessoas e ideias aberta ao mundo;
2. A emergência climática
A urgência ambiental agudizou-se num cenário internacional pós-pandémico ainda sob variadas ondas de choque. Não densificar uma estratégia transversal para o clima de Coimbra e da região CIM – do urbanismo à biodiversidade, da produção cultural à pesquisa científica, da resiliência económica à mobilidade, entre várias outras dinâmicas locais e regionais – seria uma chocante oportunidade perdida. Mas não bastam palavras: os objectivos concretos na pegada ecológica de Coimbra 2027 têm que falar por si;
3. O espaço público
As cidades existem para as pessoas. Redefinir o espaço público como topos do bem comum pode recriar um ambiente urbano inclusivo, sustentável e justo, com um acesso mais participado por todos na vida social e cultural de Coimbra. Alguns projectos-âncora são, assim, fundamentais: das margens do Mondego à reabilitação integrada do Mosteiro de Santa-Clara-a-Nova, da mobilidade ciclável e elétrica ao concurso internacional para o espaço multidimensional da Prisão de Coimbra no centro histórico, da Rua da Sofia ao Museu da Ciência da UC, dos corredores verdes ao passaporte cultural regional – na selecção criteriosa das nossas prioridades de investimento joga-se uma parte relevante da qualidade de vida urbana que projectamos para esta década;
4. A cidade criativa
Coimbra tem todas as condições para ser reconhecida pela UNESCO com Cidade Criativa nas áreas da Literatura e da Música, assumindo-se como Alma Mater da Língua Portuguesa e do Fado. Mas a criação artística não se esgota hoje na produção “tradicional”: a música é um exemplo eloquente do cruzamento com artesãos, estilos e escolas que vão da música clássica, às filarmónicas, ao jazz e às bandas indie, expressões de virtuosismo individual ou coros numerosos, pequenas editoras musicais ou grandes concertos em locais patrimoniais. A cidade criativa deve incorporar práticas de inovação em todos os domínios e Coimbra 2027 tem que ser motriz dessa liberdade criativa, rasgando horizontes criativos nas artes visuais e performativas, nas áreas educativas e sociais, no co-work e nas empresas, na participação pública e nos pequenos eventos de bairro;
5. O espírito de vanguarda
Coimbra detém um activo imaterial importantíssimo no espírito de vanguarda que, com intermitências, tem sabido gerar. Aprofundar as condições de constância e qualidade – fixando talento, incorporando artistas de acordo com a proposta de Hans-Ulrich Obrist, desafiando criadores e empreendedores internacionais – é uma parte da solução. O espírito interdisciplinar e transgressor da “new Bauhaus” europeia pode ter em Coimbra um expoente máximo – assim se alinhem as vontades, os projectos e as acções;
Coimbra depende de si mesma para ser Capital Europeia da Cultura em 2027. Muito mais do que um evento ou ano de festividades, trata-se de transformar a cidade nesta década difícil para alcançar um novo paradigma de desenvolvimento ambiental, humano e social. Uma verdadeira corrente de mudança: com todos, para todos.

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