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Opinião: Cidades seguras

28 de setembro às 13h20
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Vai acontecer o Security Summit, evento integrado no Portugal Smart Cities Summit 2024, que decorre em Lisboa, na FIL, entre os dias 8 e 10 de outubro. Entre os acontecimentos está a conferência “A Importância da Segurança Electrónica nas cidades inteligentes” que me fascina como processo de constrangimentos entre saberes e crenças distintas.

A liberdade de cada um fica violada pela segurança electrónica? Sim. Como se percebeu de Vale de Judeus a componente humana é ainda mais importante que a inteligência informática toda reunida. Sem um verificador dos dados adquiridos, ou um crescendo de aplicações, ou suportes, que façam o alarme detetando sinais ou alterações naquilo que as câmaras gravam, o sistema terá falhas terríveis. As escadas crescerão nos muros dos presídios.

A cidade segura é um espaço vigiado por câmaras e drones e um conjunto de lugares de arquivamento de informação, outros lugares de vigilância daquilo que é captado. Nada surge por geração espontânea, e por essa razão experiências anteriores deste tema foram fracassos. Houve um canal de TV privado que só transmitia imagens de câmaras de rua, e desse modo os cidadãos encenavam determinados acontecimentos, e violências futebolísticas, programando a entrada no ar daquela câmara específica. Fechouse o palco da estupidez. As cidades são mais seguras se tiverem presença clara de autoridade?

As cidades são mais amigas se a educação dos cidadãos for mais substantiva? A educação em prol da importância do conceito de partilha, e da noção de primazia dos outros, é eficaz na relação humana? Faltam dados! Os humanos são infinitamente criativos, para o bem e o mal.

Muitos portugueses adoram a sua esperteza, seu golpe de visão, a ultrapassagem no limite, o queimar as linhas dos outros para chegar segundos antes. É mais ou menos a inteligência de ir sentado na fila da frente do avião para chegar antes dos outros ao destino. Há ainda os que vão com muita pressa para tomar um café. Há aqueles que vão rapidamente almoçar e voltam amanhã. Em frente a câmaras de vigilância estes espertos encontrarão mecanismos de preguiça e de distração. Serão substituídos por aplicações.

A segurança dos cidadãos é hoje uma primazia? Sim porque a sensação subjectiva de insegurança é despertada em quantidades astronómicas pelos tabloides e o jornalixo, que se impuseram ao jornalismo. O crime que nos perturba diretamente é o pequeno crime: o empurrão, o desrespeito, o “furtozinho”, o abuso, a falta de respeito, a violência inesperada, o inimputável a fazer das suas. O desvio financeiro, a corrupção, o assassinato, nunca nos perturba o dia se não formos o alvo direto da coisa. A realidade diz que temos poucos crimes graves e muitos pequenos crimes.

As cidades seguras irão modelar a incivilidade? Sim. Aplicando coimas e enviando multas uns dias depois das infracções. Filmar e identificar o prevaricador é bom? Sim. Cria sociedades mais vigiadas e com maior índice de sensação de punição. Os vídeos vão vigiar os trabalhadores? Sim. Já servem de ponto aos horários dos trabalhadores.

Vamos poder vigiar o dia inteiro de um cidadão? Sim, já o fazem na China. E então porque estamos a fazer leis de defesa da privacidade? E porque estamos a construir aplicações para excluir o dinheiro e identificar todos os gestos financeiros? Os cidadãos adoram vigiar com suas câmaras e terão de viver com os vídeos dos outros.

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