Opinião: Apontamentos
1.A Escola Martim de Freitas (e outras em Coimbra) faz este ano os seus 50 anos. As restrições da época que vivemos não permitiram levar a cabo o extenso programa que tinha sido gizado há já algum tempo, quando ainda não se adivinhavam os efeitos das restrições, pelo que a direção procurou encontrar alguma coisa que não deixasse a data passar em claro, mas que estivesse dentro dos parâmetros que as autoridades de saúde impuseram a todos os cidadãos.
Daí o ter optado pela elaboração de um painel de azulejo que lembrasse aos alunos o patrono da sua escola e a sua atitude de fidelidade ao rei que o tinha nomeado alcaide de Coimbra.
Para o efeito, encarregou o professor José Torres de preparar a maquete e de elaborar o desenho, coisa de que, como é habitual, ele se saiu a contento.
Mas o interessante neste trabalho é que ele foi feito com a ajuda de alunos internados no Centro Educativo dos Olivais que tem um protocolo de cooperação com a escola e onde o professor Torres ocupa também o seu horário docente. Estabelecimento que acolhe jovens problemáticos, já com alguma mancha no seu ainda curto passado e que ali se pretende que sejam recuperados para a sociedade.
Louvo esta colaboração dos jovens, dois dos quais tive oportunidade de conhecer, que acompanhados pelos monitores, estiveram na Martim de Freitas no dia da inauguração do painel e foram merecedores de especial agradecimento por parte de Alberto Barreira, diretor do agrupamento de escolas..
Pode parecer coisa pouca esta colaboração. Mas tenho a certeza de que muitos dos meus leitores compartilham comigo o abraço de parabéns pela ação que foi desenvolvida e pela excelente lição de cidadania que ali ocorreu. Ainda vale a pena acreditar na sociedade em que vivemos.
2.O Dr. Manuel Louzã Henriques foi um prestigiado médico que meia Coimbra conheceu, não só pelo exercício da medicina, mas também pela sua luta constante contra o regime que nos “afogou” durante 48 anos.
Para além destas facetas – o que já não foi coisa pouca- adquiriu ao longo da vida uma notável coleção de máquinas fotográficas, de instrumentos musicais (mais de 300 de todo o mundo), de rádios e instrumentos de reprodução musical, de máquinas de costura, de aparelhos médicos, e de livros sobre os mais diversos assuntos. Tenho para mim que gastava o seu pecúlio na satisfação deste “vício”, tanto era o prazer que o colecionismo lhe dava. Está ali um verdadeiro museu que bem serve para serem ministradas lições sobre o tempo passado e de que os etnógrafos não se envergonhariam.
Entretanto, informou os seus herdeiros que queria que essas coleções fossem entregues à cidade de Coimbra, ficando a câmara municipal em sua posse, expondo-as em local que fosse acessível a todos que delas quisessem usufruir. Os herdeiros, particularmente a viúva Drª Etelvina Louzã Henriques, tentam cumprir esta última vontade do seu ente querido.
Devidamente ponderado o valor daquele património o departamento de Cultura da Câmara, particularmente a respetiva Vereadora Drª Carina Gomes, terão encontrado o local adequado para alocar o legado e em recente reunião com o representante da família, Dr. José Borges Pinto, manifestou todo o interesse em o recolher, catalogar e expor. A situação de impasse que durou algum tempo está finalmente ultrapassada. Permito-me felicitar desta tribuna o Dr. Manuel Machado e a Drª Carina Gomes pelo olhar atento para um riquíssimo espólio que enobrece a cidade.