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Opinião: À mesa com Portugal – Aprender a Comer

08 de abril às 11h15
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Consideramos fundamental que as nossas crianças compreendam a matemática, a física, a química, que saibam interpretar um poema e falar uma língua estrangeira, mas não as ensinamos a olhar os alimentos, compreendê-los e interrogar a sua presença e importância na nossa vida. Não percebemos que ao não lhes darmos as ferramentas de literacia alimentar estamos a atirá-las para um vazio onde a ignorância resulta numa alimentação pouco nutritiva, pouco saborosa e, por vezes, nada amiga do orçamento familiar. Sim, porque pacotes de bolachas, batatas fritas, coisas a que chamam de pão e tantos outros alimentos ultraprocessados, não contribuem de todo para despesas equilibradas.
O que comem as nossas crianças? Que ideia de alimentação lhes passamos? Os cereais (com níveis de sal e de açúcar elevados) ajudam no pequeno-almoço porque eles aceitam o sabor açucarado muito mais facilmente. E, sim, é mais rápido. Pôr cereais numa taça e despejar um pouco de leite demora muito menos tempo do que preparar um pequeno-almoço mais completo.
Entretanto, o que lhes passamos nesta educação do desenrasca e do não chateia, que eles até gostam dos bonecos que vêm no pacote, resulta que muitas das nossas crianças não gostam de pão, de manteiga, de queijo, de compota, de frutos secos, de iogurtes, e de tantas outros alimentos que lhes podíamos dar. Vão crescendo no monosabor, na monocultura alimentar como se a fome se resolvesse com uma taça repleta de um alimento ultraprocessado.
Se eles estudassem na escola o que são os alimentos, se aprendessem a decifrar os rótulos das embalagens, se provassem diferentes tipos de frutas, se aprendessem como a arte culinária transforma os produtos em alimentos cheios de sabor, se entendessem o ciclo agrícola e da pastorícia, talvez fosse possível que a diversidade alimentar não se perdesse. O espírito crítico que se quer numa criança ou adolescente tem também que passar pela comida que comem e tem de ir além das tendências ditadas pelo marketing. Podiam compreender o amplo leque de sabores que têm disponível para além do açucarado e salgado proporcionado, muitas vezes, por intensificadores de sabor.
E, pelo que vejo, a dita pobreza de que tanto se fala, também é pobreza de conhecimento. Muitos dos bairros sociais ganhavam qualidade de vida e oportunidades de sair do ciclo da miséria se, em vez de oferta de produtos já embalados, se se ensinasse a cozinhar. Se ensinassem a rapazes e raparigas como pegar nuns legumes e fazer uma bela sopa, como é possível com ingredientes muito simples fazer um refogado bem saboroso onde a carne ou o peixe nem precisam estar muito presentes, mas apenas têm que dar o tempero. Como com poucos ovos, uma vieira de azeite, farinha e um pedacinho de açúcar se podem fazer bolos muito saborosos e bem menos calóricos que qualquer um que se compre numa embalagem. Como com fruta já madura se pode fazer uma pequena compota que dá para tanta refeição.
Ensinar a cozinhar iria levá-los até ao valor dos alimentos. Um valor que está muito para além do preço a que é vendido no mercado, iria levá-los para o valor que definimos pelo sabor, saciedade e bem-estar que aquele produto nos deu. Depois do esforço despendido na cozinha, o respeito pelo valor dos alimentos seria maior evitando o desperdício. E, claro está, não esquecer o valor social, a possibilidade de ocupar jovens evitando comportamentos desviantes.
Será mais fácil falar à boca cheia de dietas disto e daquilo como uma qualquer bênção milagreira. Mas, a verdade é que isso é tapar o sol com a peneira e perder sabor todos os dias.

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