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Opinião: “A imitação da vida”

29 de abril às 11h49
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Quando julgamos ter todas as respostas, vem sempre algo para mudar todas as perguntas. Por isso, quando se soube que Elon Musk, o homem mais rico do mundo, acabou de comprar uma das mais conhecidas redes sociais, o Twitter, com 436 milhões de utilizadores, a questão consistiu em saber o que o teria levado a fazê-lo. Dinheiro. Esta é a resposta provável a quase todas as perguntas que na sua formulação envolvem “rico” e “comprou”.
Encurralado pelo dinheiro, o Twitter aceitou a proposta milionária de Elon Musk para ficar com uma enorme fatia da rede social. Foram 44 mil milhões de razões (em dólares) para que o conselho de administração do Twitter aceitasse a oferta do fundador da Tesla e da SpaceX. A aquisição entrou na lista dos maiores negócios do setor, posicionando-se entre as três operações mais valiosas de sempre. Com isto, Elon Musk fica praticamente com o monopólio da rede social, sem outros acionistas nem regulador que se lhe oponham.
Mas ao conhecer-se hoje mais sobre o negócio, a pergunta passou a ser: O que fará Elon Musk com a arma que adquiriu?
O próprio tem vindo a criticar o Twitter pelas restrições à liberdade de expressão. Ao fazê-lo, Musk parece ser adepto da possibilidade de reduzir a moderação de conteúdos da plataforma. A desconfiança geral disparou ao recordar que Elon Musk se tem considerado um “absolutista da liberdade de expressão”, mas, em simultâneo, já bloqueou outros utilizadores do Twitter quando estes questionaram os seus ideais ou criticaram o que escreveu.
Na história recente do Twitter, vários perfis banidos tiveram como causa a incitação à violência e a utilização de um discurso de ódio. Donald Trump foi o mais badalado, no decurso da invasão do capitólio, onde, inclusivamente, houve registo de mortes. Por isso, ao saber da compra, Trump veio aplaudir. Por que terá sido? Esta é a nova pergunta (de retórica) que fica.
A propagação de fake news, a manipulação da opinião pública e a disseminação de perfis falsos levou a uma ampla discussão sobre as linhas que separam a liberdade de expressão e a desinformação. Os Estados obrigaram a uma regulamentação protetora da sociedade e os donos das redes sociais foram, com maior ou menor vontade, forçados a aderir.
Teme-se que o Twitter de Elon Musk venha apagar essa linha protetora e relance a rede social num pântano de maledicência. Na voragem da Internet, é um ápice até que tudo fique fora de controlo.
Com o Twitter, o homem mais rico do mundo fica com acesso a centenas de milhões de utilizadores. O mesmo é dizer que esta é uma aquisição de esfera pública, ganhando uma enorme capacidade de moldar opiniões. Ainda que o Twitter não esteja entre as cinco maiores redes sociais, é inegável a sua influência devido à utilização da rede por líderes, celebridades, presidentes, bem como a atenção de jornalistas. O Twitter já possibilitou a Trump vencer as eleições na América, e pode fazer muito mais.
Já se sabe quanto Musk deu pelas ações do Twitter. Mas qual o real valor do negócio? Esta questão surge na sequência da queda das ações da Tesla, dado que Elon Musk pediu dinheiro emprestado empenhando as suas ações da marca automóvel, podendo isso significar que está a desinvestir nesse setor e a migrar para outro. A companhia já perdeu cerca de 125 mil milhões em bolsa.
Por fim, importa saber se as ideias de Musk poderão levar à destruição do Twitter. Se a rede se converter num local insano, inseguro, de abusos e de destilação de ódio, pode levar a que várias personalidades o abandonem. Mas pode também levar à criação de outras redes sociais que sejam lugares mais inclusivos e benignos para todos. Isto parece uma imitação da vida real.

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