Opinião: “A desagregação de freguesias beneficia as populações?”
SIM. Nos casos em que os critérios que regeram a agregação das freguesias não respeitaram as principais conclusões das inúmeras teses que foram realizadas sobre a reorganização territorial. Entre esses critérios temos a história, a cultura, o meio físico e social ou a economia. A agregação de freguesias não pode ser vista com a mesma lógica do pacote de detergente ou dos rolos de papel higiénico da economia de escala do setor grossista. Nessa lógica, quanto maior a escala da compra mais barato sai o produto. Como as freguesias não são pacotes de detergente temos que ir ler o que dizem as teses e os trabalhos dos especialistas sobre a reorganização do território. E essas teses dizem coisas muito importantes de uma forma fundamentada. Dizem que o mapa das freguesias em Portugal ainda resulta em grande medida de conflitos, rivalidades e territórios de influência do clero e das paróquias locais, que hoje em dia fazem pouco sentido. E dizem ainda que será desejável reorganizar freguesias tendo em conta o peso relativo dos critérios acima referidos.
O grande problema da reforma de reorganização implementada por Miguel Relvas é que esta não bebeu desse trabalho académico (não era propriamente o forte de Relvas) fundamentado em imenso trabalho de terreno, acabando essa reforma por obedecer mais à lógica do pacote de detergente no mercado grossista e aos jogos de influência das concelhias partidárias dominantes.