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O Vale onde o futuro já começou

13 de novembro às 12 h00
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No início da década de 1970, o jornalista Don Hoefler, da revista Electronic News, publicou um conjunto de artigos intitulado “Silicon Valley USA”, descrevendo o rápido crescimento das empresas de tecnologia na Baía de São Francisco. O nome teve grande aceitação: “Silicon” referia-se aos chips de silício, a base da revolução eletrónica, e “Valley” à geografia do vale onde estas empresas se concentravam. Desde então, Silicon Valley tornou-se sinónimo de inovação, empreendedorismo e capital de risco, um modelo para ecossistemas tecnológicos em todo o mundo.

As origens do Vale remontam à década de 1940, quando a região, então coberta por pomares (e onde mais tarde surgiria uma empresa com um logótipo em forma de maçã mordida), começou a atrair engenheiros ligados à Universidade de Stanford. O impulso inicial veio de um professor – Frederick Terman, considerado o “pai de Silicon Valley” – que incentivou os seus alunos a criarem empresas. Entre estes estavam William Hewlett e David Packard, criadores da Hewlett-Packard (HP), cuja garagem em Palo Alto se tornaria o símbolo do espírito empreendedor deste vale.

Nos anos 1950 e 1960, o desenvolvimento da indústria dos semicondutores consolidou a identidade tecnológica desta região, de onde emergiram empresas como a Intel, criadora do primeiro microprocessador. E, com o tempo, vieram muitas outras como a Apple, Google, Cisco, Oracle, Meta, tornando o Vale o epicentro global da inovação digital.

Recentemente, tive oportunidade de vivenciar este ecossistema único, onde universidades, startups e investidores coexistem num ciclo contínuo de inovação que define as tecnologias deste século.

Em visitas a empresas líderes, sessões com especialistas sobre inovação rápida e aplicação da Inteligência Artificial (IA), compreendi que o segredo do Vale vai além da tecnologia – é um estado de espírito que se distingue por uma cultura de risco, colaboração e criatividade, que valoriza o erro como oportunidade de aprendizagem.

As empresas partilham valores de curiosidade, confiança, otimismo e responsabilidade coletiva. Esta mentalidade, aliada à proximidade de universidades de topo como Stanford e Berkeley, atrai talentos e capital de risco, alimentando uma espiral de experimentação e melhoria contínua, sempre valorizando e imprimindo velocidade neste desenvolvimento.

Hoje, a IA domina o cenário do Vale, visível em outdoors, vivida em laboratórios de investigação, mas também nas notícias que se ouvem sobre o seu impacto (e o da automação) no futuro do emprego. Como no passado, Silicon Valley é o centro de uma nova revolução tecnológica, e o seu exemplo reforça a urgência de nos prepararmos para os desafios que a IA traz à economia global.

Esta experiência mostrou-me que a transformação digital não é apenas tecnológica, mas exige mudança de mentalidade. Hoje não é necessário reinventar tudo nem (re)começar tudo do zero. Importa, sim, acompanhar este ritmo porque o futuro já começou. E o futuro é o lugar onde viveremos.

Autoria de:

Victor Francisco

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