Opinião: História de um vegetariano ambientalmente induzido
No passado dia 5 do presente mês comemorou-se o Dia Mundial do Ambiente que foi instituído pelas Nações Unidas em 1972. Embora perceba a importância de assinalar os temas mais relevantes para a sociedade, confesso que, tal como seguramente muitos dos Leitores, por vezes me parece que há dias celebrativos a mais, mas talvez eu esteja enganado. Afirmo, no entanto, que o Dia Mundial do Ambiente é daqueles dias que merece todas as atenções que lhe podermos dar. Pensar em celebrações, faz sentido devido à importância vital que o Ambiente tem na nossa existência, no entanto, devemos associar estas comemorações a uma reflexão séria sobre a forma como lidamos com o Ambiente. No resultado de uma reflexão deste âmbito que fiz no Dia Mundial do Ambiente de 2006, tomei uma decisão que alterou substancialmente a minha vida – tornei-me vegetariano.
Quando, antes deste período de limitações pandémicas, almoçava em restaurantes com outras pessoas, frequentemente perguntavam-me o porquê desta opção alimentar, a qual normalmente associavam ao pesar pelos animais ou a questões de saúde. Na verdade, o fator que originalmente motivou esta decisão está relacionado com questões ambientais, especificamente com a vontade em diminuir a minha pegada ecológica – apenas mais tarde se juntaram outros fatores como aqueles dois que referi. Para quem desconhecer o conceito “pegada ecológica” transcrevo a definição dada na Wikipédia que a descreve como a “quantidade de terra e água (medida em hectares) que seria necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos, gastos por uma determinada população” ou, neste caso, por um indivíduo.
Nesse dia 5 de junho de 2006 usei vários programas de cálculo da pegada ecológica, tendo constatado que a minha pegada ecológica de então era de 4,3 hectares, acima dos 2,8 hectares considerados como o limiar para o ambientalmente sustentável. Fiz várias outras simulações e verifiquei que se eliminasse o consumo de carne e peixe da minha dieta, reduziria a pegada ecológica para os ambicionados 2,8 hectares. Tentei perceber o porquê desta diminuição tão drástica e pude então constatar o quão ineficiente é a produção de carne, a indústria pesqueira e as várias atividades ligadas à produção de alimentos de origem animal. Factos como a necessidade de cerca de 300L de água para a produção de 1 kg de batatas e de cerca de 15000L de água para a produção de 1kg de carne bovina, ou que apenas 1/3 do pescado chega efetivamente aos nossos pratos encorajaram-me ainda mais a prosseguir com o regime vegetariano. Aprofundei a minha pesquisa e acedi a estudos que referem que, nos padrões de desenvolvimento atuais, o Planeta conseguiria alimentar até nove mil milhões de pessoas seguindo o regime alimentar comum. No entanto, seria possível alimentar até 24 mil milhões de pessoas que seguissem o regime vegetariano.
Não pretendo com esta deambulação dizer que o regime vegetariano é o melhor do Mundo ou que todos nós deveríamos optar por este regime alimentar. Penso que, como em tudo, a diversidade é fundamental. Queria deixar dois comentários finais para reflexão. O primeiro é que devemos alimentar-nos de forma consciente, sabendo quais são os impactes associados à nossa dieta alimentar, para assim podermos fazer as nossas escolhas de forma esclarecida. Em segundo lugar, queria chamar a atenção para o desperdício alimentar nas várias fases do consumo que é sem dúvida o maior fator de insustentabilidade ambiental associado à alimentação.