Ética para as ciências da vida recolheu contributos na UC

Ao fim de duas décadas, Portugal vai voltar a ter um relatório atualizado sobre o “Estado da Aplicação das Novas Tecnologias à Vida Humana”.
O documento foi elaborado nos dois últimos meses de 2021 e está agora a fazer um périplo por quatro cidades do país – Coimbra, Porto, Lisboa e Évora –para recolher os últimos contributos de especialistas de áreas como a medicina, justiça, sociologia, tecnologias e empresas.
Foi o que aconteceu ontem, com o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) a convidar para o debate – realizado na Universidade de Coimbra (UC) – especialistas de Coimbra como Luís Pereira de Almeida, Lina Ramos e Carlos Robalo Cordeiro e Manuel dos Santos (docente da Universidade de Aveiro).
A presidente da CNECV, Maria do Céu Neves, adiantou ao DIÁRIO AS BEIRAS que “a ética para as ciências da vida não serve para estabelecer limites a priori, nem obstaculizar o desenvolvimento tecnológico”, acrescentando que “não se colocam limites à investigação, mas sim orientações, para que a tecnologia seja posta ao serviços de todos”.
Tecnologia não pode estar ao serviço de interesses
À margem do encontro, Maria do Céu Neves deixou o alerta de que “a utilização da tecnologia não pode estar ao serviço de interesses económicos ou de agendas políticas, mas sim da justiça global e do bem-estar comum”.
Esta questão assumiu especial relevância com o processo global de vacinação anti-covid 19, bem como com o desenvolvimento de tecnologias que, não sendo inéditas, “assumem agora especial impacto terapêutico”.
O relatório que está agora em debate na comunidade científica deverá ficar encerrado após a última sessão descentralizada, a 7 de abril, em Évora. Nessa altura será tornado público, com recomendações enviadas à Assembleia da República, Primeiro-Ministro e Presidente da República.
No debate de ontem todos os participantes convidados estiveram de acordo sobre a necessidade das instituições hospitalares e do ensino superior serem mais flexíveis na libertação dos seus quadros para realizarem investigação.
Aliás, as tecnologias impulsionadas pela pandemia assumem-se como o tema principal deste relatório, em que se estabelece “uma reflexão ética sobre as tecnologias emergentes e o seu impacto na vida dos cidadãos, reconhecendo os potenciais benefícios, a implementar, e os efeitos negativos, a evitar”.
O debate realizado ontem pretendeu dar resposta a três questões: “Aplicações de tecnologias digitais aos cuidados de saúde em contexto de pandemia”, “Vigilância e monitorização epidemiológica: ferramentas digitais e matemáticas utilizadas durante a pandemia” e “vacinas de mRNA: uma tecnologia emergente da covid-19”.