Entrevista: “Investigação é uma área da qual nos orgulhamos e pela qual somos reconhecidos”
A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) leciona e faz investigação em três áreas das ciências sociais e humanas: Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social. Isto torna a gestão mais complexa e desafiante?
Certamente que sim, pois do ponto de vista institucional temos que estar atentos e procurar responder às principais necessidades sentidas por docentes, investigadores e estudantes das diversas áreas, bem com às metas e planos de ação que vão sendo traçados para estas diferentes áreas disciplinares pelos seus principais agentes e atores. No entanto, a interação virtuosa entre as nossas três áreas científicas e disciplinares, bem como a riqueza das parcerias que dela resultam, tendo em vista uma formação integral dos nossos estudantes, é uma faceta muito gratificante deste trabalho realizado num contexto de grande complexidade.
A FPCEUC tem sabido corresponder ao desafio da investigação? Que projetos recentes destaca?
A área da investigação, que permeia todos os nossos pilares de missão, bem como os nossos desígnios mais importantes é uma área da qual muito nos orgulhamos e pela qual somos, inegavelmente, reconhecidos. Para além de albergarmos dois projetos na área da investigação básica (neurociência cognitiva) financiados pelo European Research Council e de uma Era Chair (o projeto Cogbooster), que tem por objetivo o reforço da formação na ciência cognitiva básica e, também, translacional na FPCE, nomeadamente ao nível da formação avançada, todos com elevado prestígio e grande dinâmica, dando origem a ações inovadoras e a novos laboratórios, temos estado a desenvolver atividades de investigação decorrentes dos dois projetos de investigação financiados pela União Europeia na área da psicologia social, dos quais somos coordenadores. Gostaria ainda de realçar que, no âmbito do programa FCT Tenure, dos 11 perfis que foram propostos pela FPCE, em articulação com o CINEICC, 10 foram financiados, ao que se adiciona um perfil financiado em parceria com o CES e três perfis financiados em parceria com o Ceis20 da Universidade de Coimbra. Foi uma aposta ganha, que se baseou no alinhamento das propostas com as unidades de I&D com as quais temos uma colaboração consolidada, ou porque estão integradas na FPCE, fazendo parte da nossa matriz institucional (o caso do CINEICC), ou porque integram docentes/investigadores da FPCE cuja atividade constitui uma aposta comum no avanço do conhecimento e na inovação pedagógica. E essa aposta não foi, para a FPCE, apenas uma oportunidade para substituir docentes em situação de aposentação a curto prazo, mas uma via possível para a expansão do nosso portfolio nos planos do ensino, investigação e transferência do conhecimento ao nível da ciência básica e aplicada.
Nesta área, há uma relevante ligação à comunidade, nomeadamente através do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental, e incluindo a prestação de serviços?
De facto, assim é. Para além das atividades de formação avançada não conferentes de grau, do serviço de consultoria aos tribunais e das 15 consultas de psicologia dirigidas a crianças, jovens e adultos de todas as fases da vida, bem como a pais e professores ou educadores, que são disponibilizadas pelo nosso Centro de Prestação de Serviços à comunidade, essa ligação é igualmente assegurada pelas nossas estruturas mais vocacionadas para a investigação e a transposição do conhecimento científico, nomeadamente o OCIS e o CINEICC. Um exemplo recente, único no nosso contexto, é o da integração do programa Be a Mom, desenvolvido por uma equipa de investigadores do CINEICC no SNS. Esta integração, que culminou na assinatura de um protocolo entre a UC, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental e o Institute for Healthcare Improvement (EUA), resultou de uma parceria entre os intervenientes para a disseminação progressiva deste projeto em diversas ULS do SNS.
Face a um panorama geral de crescimento, ao nível do ensino e da investigação, com sucesso em muitos projetos, a FPCEUC também se vê a braços com a exiguidade dos recursos humanos?
Sim, para garantir o normal funcionamento dos cursos que leciona, para manter a sua reputação ao nível científico e de angariação de fundos competitivos, para manter a sua atratividade e o nível de internacionalização, que está num ritmo ascendente. Estamos, sem dúvida, a braços com um corpo docente envelhecido, com muitos colegas à beira da aposentação, razão pela qual temos que efetuar um planeamento urgente, embora cuidadoso, que garanta a existência de um ambiente de ensino e de investigação adaptado aos desafios contemporâneos e às expectativas dos alunos e da comunidade científica. Um exemplo evidente da carência de recursos humanos é o da participação de docentes das ciências da educação e da psicologia da educação nos mestrados de ensino da UC, onde não há grande retorno do envolvimento consistente da FPCE, situação que exige uma reflexão cuidadosa sobre a sua sustentabilidade. A formação educacional geral, que é transversal aos cursos de mestrado e fundamental para o seu funcionamento, vem sendo relegada para uma posição secundária na estrutura organizacional, o que contribui para uma sobrecarga dos docentes e uma experiência de formação menos personalizada por parte dos estudantes. Esperamos que a recém-criada Academia de Formação dos Professores na UC contribua para a criação de um modelo de formação onde estes problemas sejam ultrapassados.
Pode ler a entrevista completa na edição impressa e digital do dia 05/11/2024 do DIÁRIO AS BEIRAS