Diário As Beiras

“O Centro de Portugal tem problemas turísticos estruturantes que é preciso ajudarmos a resolver” (com som)

PEDRO MACHADO LC  (17)

Pedro Machado, presidente da Entidade Regional de Turismo Centro de Portugal e da Associação Nacional de Turismo de Portugal, afirma que neste momento não tem ambições político-partidárias

O que é que distingue a região Centro do resto do país para quem a visita?

Desde logo, o tamanho. Estamos a falar de maior concentração geográfica organizada. Por força da lei, consagra uma organização geográfica de 100 municípios. Provavelmente, aquilo que nos diferencia é a diversidade do produto turístico. Hoje, podemos oferecer praia, sol e neve. Somos, provavelmente, a única região do país que o pode fazer.

Os turistas pernoitam pouco na região. Porquê?

O Centro de Portugal tem três problemas estruturantes que é preciso ajudarmos a resolver. Um tem a ver com estadia média, que é de 1,8 noites e a média nacional está nos 2,2, exceção feita à área de termas de saúde e bem-estar, cuja média ultrapassa os cinco, oito dias. O segundo problema tem a ver com sazonalidade. E temos um outro problema, que é uma forte litoralização do setor.

Qual é o contributo da região para o turismo nacional?

É um contributo relativo. A Madeira, Lisboa e o Algarve concentram cerca de 80 por cento do fluxo turístico nacional. [Mas] é uma percentagem significativa, porque corresponde a mais de quatro milhões de dormidas, mais de dois milhões de turistas e mais de 200 milhões de euros de receitas.

A Figueira da Foz é a “rainha das praias do Centro”?

É, seguramente, uma das praias mais importantes que temos no Centro e no país.

Esta cidade tem uma gastronomia que a caracteriza, ou tem apenas festivais gastronómicos que podem realizar-se em qualquer parte do país?

A Figueira da Foz tem uma gastronomia que a carateriza e daí ser possível realizar tantos festivais gastronómicos. O que julgo é que é necessário é que estes festivais devem introduzir alguns conceitos de modernidade e inovação. (…) Desde logo, associar a riqueza da gastronomia regional às novas tendências que o mercado procura – chefes e nomes de referência.

O aeroporto de que a região necessita está na base aérea de Monte Real?

Atendendo às circunstâncias que o país hoje atravessa, com um investimento infinitamente menor do que aquele que se fez em Beja, Monte Real tornaria possível que esse fosse um aeroporto aberto à aviação comercial e civil e isso potenciaria não apenas o turismo mas também a atividade económica. É uma ambição que mantenho. Desde que haja consonância – e julgo que já há interesses para que isso venha a acontecer, em particular nas regiões de Coimbra, Leiria e Oeste – seria de facto Monte Real um fator de desenvolvimento.

A região não tem cruzeiros…

Ainda não temos cruzeiros.

“Ainda não”?

Ainda não significa que nas regiões de Aveiro e Coimbra existem vontades para essa ambição maior de podermos ter condições para barcos que possam transportar até 600 turistas. Sabemos, também, que não é só por se fazerem marinas e pontos de atracagem que os cruzeiros vêm, mas há, hoje, uma oferta que pode vir para a região Centro, se entre Coimbra, a Figueira da Foz e Aveiro pudesse haver condições para a receber.

Quais foram as razões que o levaram a não avançar para a Câmara de Montemor-o-Velho (pelo PSD)?

Três ordens de razão. Primeiro, o Pedro Machado tem cinco mandatos consecutivos dados à causa de Montemor-o-Velho. Por isso, julgo que mereço, no mínimo, o reconhecimento e a aceitação de que, mais do me identificarem como o indivíduo que se foi embora, o indivíduo que deu 20 anos consecutivos ao seu concelho. Acho que é uma leitura diferente daquela que às vezes querem fazer passar, que é olhar apenas para o último dia do último ano. Segundo, porque havia na estrutura da equipa de que fazia parte pessoas que ainda hoje considero que têm mérito e competências, nomeadamente Abel Girão, para poderem desenvolver e aceitar esse desafio. E julgo que Montemor-o-Velho ficaria também bem entregue se ele tivesse sido eleito presidente da câmara. Terceiro, porque o calendário de uma eleição autárquica embateu no calendário da eleição para a Turismo Centro de Portugal. O desafio que me era colocado era este: tinha liderado um projeto de quatro anos, esse projeto tinha, pela primeira vez, conquistado território, cultura e a vontade expressa de empresários e de autarcas e o desafio que nos era colocado era interromper esse projeto.

Em Montemor-o-Velho diziam que ficou à espera no que ia dar a Turismo do Centro. Estava a jogar em dois tabuleiros?

Essa é leitura mais primária e mais imediatista de quem não percebe o que é que estava em causa. O ser tarde ou não [para anunciar a candidatura à câmara], lembro que candidatos que hoje são autarcas anunciaram a sua candidatura em junho e outros processos de candidaturas foram resolvidos dois ou três meses depois de Pedro Machado ter tomado a decisão.

Pelo menos no último mandato, as relações entre o presidente Luís Leal e o vice-presidente Pedro Machado deterioraram-se. Quais foram as razões?

Houve um afastamento eventual, pelo facto de não ter sido eu a assumir a liderança da candidatura à câmara, mas julgo que o mais importante fica escrito nos 20 anos que dei ao município.

Foi presidente da Distrital e da Concelhia do PSD e vice-presidente da autarquia montemorense. Quais são as suas ambições políticas?

Há duas coisas que eu aprendi: não dizer nunca e não dizer irreversível ou irrevogável. Deixei todas as minhas funções executivas partidárias. Acho que é preciso termos ambição para fazermos melhor. (…) Agora, a minha ambição é o turismo.

Esta entrevista pode ser ouvida na íntegra na Foz do Mondego Rádio (99.1FM)